Por Marcelo
Lopes
Quanto
vale um edifício erguido sobre maciças toneladas de sonho? Um imenso picadeiro armado
entre os mais concretos desejos humanos? E quem nos convence a comprá-lo quando
os ditames do mercado real nos distanciam do essencial à vida e nos vendem, compulsoriamente,
artigos da mais importante futilidade?
O
circo - uma das mais antigas e completas artes de espetáculo no mundo – vive ainda
hoje dilemas entre crise e renovação, em busca de uma reinvenção que em muitos
casos compromete a sobrevivência de iniciativas com décadas de histórias,
subemergindo sua magia original picadeiro no meio de tecnologias e produções
que muitas vezes fogem a tudo o que o circo sempre foi. Principalmente,
repensar a arte circense é um processo de restabelecimento de um diálogo
criativo capaz de trazer novamente seu público à plateia.
As
sinceras questões que permeiam o hiato entre a vida útil e a arte são a
matéria-prima do espetáculo “O Circo de Soleinildo”, da Cia Operakata de Teatro,
narrada na forma de um circo que não quer morrer, e de personagens que teimam
em interpor a criatividade entre o público e o mundo consumista que o engole. Numa
época em que a arte circense se resignifica sobre os moldes de uma cultura de
mercado, a exemplo da grandiosidade empresarial e artística do Cirque du Soleil, a luta de um pequeno circo mambembe - que tenta sobreviver aliando
falsamente seu nome ao grande empreendedor canadense das artes – o Circo de
Soleinildo impõe-se aos percalços e às desilusões numa história poética, límpida
e comovente.
Repleto
de referências visuais - da composição do cenário a completa textualização
gestual da história - a peça, vencedora do 13º Festival de Cenas Curtas pelo Galpão Cine Horto (MG) em 2012, traz para os palcos a magia deste mesmo circo construído
sobre a ilusão e o sonho. Faz destes elementos peças fundamentais para o entretenimento
e o enternecimento do público, resgatando-o deste universo engolfado pelas
sombras do tempo, fazendo-nos lembrar principalmente que o peso da perda de um
mundo tão povoado de criatividade e valores artísticos não é apenas do artista
circense, mas de todos nós.
“O
Circo de Soleinildo” e o a peça “Colégio Kadija –
Esquete 10” foram os primeiras espetáculos da Temporada VerãoCênico 2013, apresentada dia 9 de Janeiro, no Centro de Cultura Camillo de JesusLima, em Vitória da Conquista. Até o próximo dia 30,
a cidade receberá também as montagens “Entre Nós – Uma Comédia sobre
Diversidade”, “Vidas Secas” e “Iauretê”. As apresentações acontecem sempre às
quartas-feiras e o preço dos ingressos varia entre R$ 1,00 (inteira) e R$ 0,50
(meia). O projeto é uma realização da Fundação Cultural do Estado da Bahia – Funceb que realiza a Temporada ainda em outras cidades nos seis
macroterritórios baianos: Alagoinhas, Barreiras, Euclides da Cunha, Feira de
Santana, Irecê, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Mutuípe, Porto Seguro, Teixeira de
Freitas e Valença.
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