terça-feira, 1 de agosto de 2006

Um final de semana daqueles!

No quarto, a ausência dos dias

Pesa nas noites.

A extensão da cama

Perfigura o vão do lugar

Cheio de mim.

Mas no concreto, nada dela.

E quanto mais os dias passam

Crescem as semanas

As quinzenas

O mês incha.

Até que ela chega.

Chega bem

Chega inteira

De carne e osso.

Ah, a carne!

Envolta em amor

Em ternura

Candura

Sorriso pequeno

Largo aceno de mulher

Chega inteira.

Traz consigo

Meu coração doado

Doído da falta

Mas vivo e pulsando

Injetado de sangue

E faz minhas veias saltarem

Circularem com velocidade

Acenderem os mais recônditos

Desejos

Em lampejos de fome

Sede

Calor

Volúpia.

Nada contido

Nada relegado

Nada deixado pra depois.

Porque ela chega

De noite.

E o peso do dia

Se esfumaça

Com um sol abençoado

No lugar de um vento gelado

Tão comumente esperado

E a noite se torna leve

Flutua semovente

Tem cheiro

Arde

Vive

Se move

E como se move!

Sussurra sobre e sob

O lugar que é cheio de mim

Por sobre a cama

Por sob mim

E os dias somem

As semanas

As quinzenas

O mês perde o sentido

Porque o tempo não tem mais graça

Não tem mais valor

Também os números

Não importam.

Quantas vezes

Nem se conta mais.

Parece tudo um contínuo

Emendados os corpos

Um no outro

Assiduamente

Interminavelmente

Deliciosamente

Em ternura

Candura

Sorriso pequeno

Que olha

Que fecha os olhos

Que sussurra

Murmura

Se move

Devolve meu coração doado

Faz minhas veias saltarem

Injeta sangue

Deseja

Ama

Por toda à noite

Pelo dia (apenas com o peso necessário)

E a cama não fica mais vazia

Só isso importa

Só ela importa

Não precisa nada mais

Ela chega

Ela basta

Ela resume tudo

Porque se é tudo o que espero

Para minha resposta

Ela chega.

sábado, 10 de junho de 2006

No Mínimo

Voltei a ler "O Amor nos Tempos do Cólera", de G. G. Marques.

É extremamente instrutivo, delicioso e revelador lê-lo num momento em que venho escrevendo tanto. Primeiro porque desperta "medo" e cuidado... como um referencial, é uma fonte de inspiraçào textual incrível. Depois, porque, ao escrever, se percebe que é preciso ter, NO MÍNIMO, muita humildade.


sábado, 11 de fevereiro de 2006

Para Layla

Olha,

Como que fazendo do olhar

Um pincel

De pelos finos e sensíveis,

Anatomia precisa,

Instrumento afinado,

Extensão dos teus próprios dedos,

Tensos ou libertos ao desejo de ver.

O exercício do olhar dá

Ao banal o valor do símbolo.

Transforma o mendigo em

Doce vagabundo.

Dá cartola ao vilão

Mais ordinário.

Vê sabedoria nos animais

E bichos decrépitos

Nos nossos belos intelectualóides.

Somos cúmplices, minha doce amiga,

Na forma que damos aos

Traços alfabéticos da nossa escrita.

Teus olhos tão cintilantes,

Imantados,

Põem a teus pés a admiração do mundo.

Use-os.

No nosso amor pelas letras

Meu texto flui solto,

Corre feito o potro em dia de sol,

Mas também se cansa e sabe quando

E como é hora de parar

Para que a energia volte.

O teu, agarrado aos impulsos

E sentimentos mais viscerais,

Todos moldados no teu sublime jeito,

Nascem dos pequenos gestos desejados

Que teu olhar busca ver

Nos que por ti passam

Nos que em ti ficam.

No tudo que te cerca.

Sobre o que escrevemos

Temos um mundo e alguns anexos

A dizer, a contar do que percebemos.

E se te deixo essas palavras,

Olhos cintilantes,

Não são por conselhos,

É minha forma de dizer

Do carinho gratuito por ti,

E de dizer-te que as palavras

Estão por aí, soltas

Correndo ao sol

Sem tempo

Só é preciso agarrá-las...

Estenda as mãos.

Veja onde elas estão.

Olhe.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Coisas recentemente antigas

Andei lendo coisas recentemente antigas.
Nelas encontrei coisas de que me orgulho, outras nem tanto...
Resgatei hoje um momento, desses que a gente chama de felizes por nada.

Escrevi isso para alguém e foi importante por tudo.

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Numa dessas tardes
Ainda laço um passarinho.
Não por maldade
Nem pra cercear-lhe
A vontade,
Liberdade primeira
De ir e vir.

Nem pensar,
Colocá-lo ali
A me servir.

Para pedir-lhe
Uma carona.
A corda, então
Serve apenas
De pendão,
Um balanço talvez,
Onde me penduraria
E ao céu
Alcançaria em
Tão suave companhia.

Claro, argumentaria.
Não se obriga ninguém
A agüentar tamanha
Tralha em plena luz do dia.

Não pensemos nas proporções
Estamos na escrita
Onde imperam outras liberdades
E dela não se tiram
Certos tipos de lições.

Mas se peso importa
Garanto que sou leve,
Ou que, pelo menos,
Não haja
Ninguém tão leve
Quanto possa avalizar
Meu coração,
De carimbo
E tudo seguro à mão.

E se esse favor
Tal passarinho
Me fizer,
Por amor qualquer,
É possível
Que estando eu
Tão perto do
Meu destino
Que possa eu mesmo,
E forma voluntária,
Levá-lo
Pelo ar.

Desatino?
Nada.
Desarmo em todos
Qualquer lógica contrária
Basta que
Me vejam sorrindo.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Oba, oba Charles!

Como é que que é my friend Charles? / Como vão as coisas Charles?


O ALBATROZ


Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao próncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.


Charles Baudelaire


terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Tchau... e tenha um Bom Dia noite!

Incrível como ficar sem dormir é, às vezes, uma opção pela falta de sono e insônia simultaneamente. Explico: não há sono e o fervilhar da criatividade na madrugada fica solto, desperto entre os sons da noite... Tb não há insônia, pq a opção do sono é consciente, e se dormir for a bola da vez, é fechar os olhos e entregar-se a um prazer onírico qualquer.

Pq tudo isso agora? Pq o sol nasceu pela janela atrás de mim e nem percebi...