No quarto, a ausência dos dias
Pesa nas noites.
A extensão da cama
Perfigura o vão do lugar
Cheio de mim.
Mas no concreto, nada dela.
E quanto mais os dias passam
Crescem as semanas
As quinzenas
O mês incha.
Até que ela chega.
Chega bem
Chega inteira
De carne e osso.
Ah, a carne!
Envolta em amor
Em ternura
Candura
Sorriso pequeno
Largo aceno de mulher
Chega inteira.
Traz consigo
Meu coração doado
Doído da falta
Mas vivo e pulsando
Injetado de sangue
E faz minhas veias saltarem
Circularem com velocidade
Acenderem os mais recônditos
Desejos
Em lampejos de fome
Sede
Calor
Volúpia.
Nada contido
Nada relegado
Nada deixado pra depois.
Porque ela chega
De noite.
E o peso do dia
Se esfumaça
Com um sol abençoado
No lugar de um vento gelado
Tão comumente esperado
E a noite se torna leve
Flutua semovente
Tem cheiro
Arde
Vive
Se move
E como se move!
Sussurra sobre e sob
O lugar que é cheio de mim
Por sobre a cama
Por sob mim
E os dias somem
As semanas
As quinzenas
O mês perde o sentido
Porque o tempo não tem mais graça
Não tem mais valor
Também os números
Não importam.
Quantas vezes
Nem se conta mais.
Parece tudo um contínuo
Emendados os corpos
Um no outro
Assiduamente
Interminavelmente
Deliciosamente
Em ternura
Candura
Sorriso pequeno
Que olha
Que fecha os olhos
Que sussurra
Murmura
Se move
Devolve meu coração doado
Faz minhas veias saltarem
Injeta sangue
Deseja
Ama
Por toda à noite
Pelo dia (apenas com o peso necessário)
E a cama não fica mais vazia
Só isso importa
Só ela importa
Não precisa nada mais
Ela chega
Ela basta
Ela resume tudo
Porque se é tudo o que espero
Para minha resposta
Ela chega.