quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ensaios de Música Brasileira

Release do evento

O projeto "Ensaios de Música Brasileira" é um formato de apresentações musicais comandadas pelo grupo CAIM. Os Ensaios têm como finalidade a disseminação do trabalho autoral do grupo, bem como o estreitamento da relação das composições com o público, a fim de popularizar o processo criativo de CAIM no formato dos ensaios de verão que acontecem na capital com bandas de axé, pagode e forró, e que antecedem o Carnaval e o São João, respectivamente. Os Ensaios de Música Brasileira objetivam apresentar o grupo CAIM para a comunidade e antecederão o lançamento do primeiro disco do projeto, que será lançado no segundo semestre deste ano.

CAIM é comandado pelos artistas Achiles Neto e Marcus Marinho. A dupla de compositores lançou em 2012 o disco PANDORA e possui passagens vitoriosas em importantes festivais de música pelo país. Em 2012, os dois jovens foram os vencedores do X Festival de Música da Bahia, do IV Festival Velho Chico Beat deMúsica, em Bom Jesus da Lapa e foram os artistas mais premiados do Prêmio Suíça Baiana, levando as categorias de “Melhor Cantor – Achiles Neto”, “Melhor Música – Agonília”, “Melhor Disco – Pandora” e Revelação.

O primeiro ensaio acontecerá no Centro deCultura Camillo de Jesus Lima, no dia 05 de Maio, às 16 horas, e contará com um pocket show do também artista conquistense e jovem compositor Fellipo Rocha. A entrada é promocional e custará R$ 5,00.

REFORÇANDO:

LOCAL: Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima

DIA: 05 de Maio

HORÁRIO: 16 horas

ENTRADA: R$ 5,00

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Existirmos: a que será que se destina?

Por Marcelo Lopes

Às vezes fico mesmo pensando se somos protagonistas nisso tudo. Se, em algum lugar por aí, deixamos de ser razão para nos tornarmos a desculpa de alguém para alguma coisa. A lógica se inverte e o que de fato é raiz vira folha e é soprada para fora do cenário. E muitas raízes vivem voando por aí, secando ao sol, já que, sendo folhas agora, são muitas, e se repõem facilmente para serem sopradas novamente ao alheio.

É assim com a educação, onde o professor é o culpado se há greve - por condições que já passaram do parâmetro do desumano - e a preocupação maior é: “como pode tantos alunos fora das salas de aula?”, “e quem vai ficar com meus filhos se eu tenho que trabalhar?”, ou “e o vestibular?”.

Da mesma forma é com a grande mídia, inoculadora da ideia de que a programação existe da forma que existe porque é o que o povo gosta. São programas de TV idiotizantes, que quando não espirram sangue em noticiários “jornalísticos” nos adoçam a boca com corpos sarados e sacolejastes; são músicas despejadas aos borbotões, em todos os espaços possíveis, já passadas em muito do critério do gosto para se tornarem questão de saúde pública tamanho o ruído que produzem e o processo químico que desencadeiam ao inutilizar milhares de neurônios por segundo. Como gostar de algo além disto se sequer temos acesso a outra coisa?

Ainda somos obrigados a ouvir frases capciosas como a que justifica que “o povo tem os representantes que merece”, quando nosso maior mérito é nos mantermos regularmente educados para merecer os representantes que temos (sim, porque dessa educação nós usufruímos!). E entre o burocrático e o legalista – entremeio no qual nos perdemos muito fácil – há tantos discursos importantes que nunca fomos de fato consultados a avalizar.

Então, fico pensando: por existirmos na cultura, a que será que se destina estarmos aqui? A voz é realmente nossa ou ela reproduz a existência de outras coisas? Ou, se a voz é nossa, de quem são as palavras? Da ilustração mais generalista ao mais sutil aspecto, assim vivemos. Veja o exemplo abaixo.

No último dia 18 de abril estive no velório do artista plástico J. Murilo, uma das figuras mais expressivas da cultura conquistense, reconhecido por sua obra e também pelo seu bom humor e generosidade. Certo de que viveu como um ser humano feliz deixou amigos e admiradores com a sensação de que findou seu ciclo terreno de forma digna. Ou, como diria Ariano Suassuna, na voz do seu personagem Chicó: cumpriu sua sentença; encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.

Murilo foi velado no foyer do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, das 16h às 22h, a pedido do próprio artista, que, já ciente do seu curto tempo entre nós, manifestou este desejo quando de sua última exposição naquele mesmo espaço, há dois meses. Queria ser homenageado onde sempre militou, na cultura. Nada mais justo.

Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima
Entre inúmeras conversas, saudosistas ou não, que invariavelmente cercam estes momentos, uma delas me chamou a atenção pelos mesmos motivos que aqui venho argumentando: por regra, norma, artigo, prolegômenos, lei, determinação, formalidade, mandamento e preceitos que regem a gestão dos centros culturais do estado, uma homenagem dessa natureza não poderia ocorrer. Consultando o texto da referida diretriz, é possível observar que ela trata textualmente da vedação de “utilização de espaços para eventos particulares”, no qual se incluem velórios. Na aplicabilidade crua da regra nada há o que contestar já que as normatizações são necessárias para qualquer gestão. O que é preciso entender, no entanto, é que o que se viu ali, naquela quinta-feira, extrapola o simples interesse particular.

Por entendimento da diretoria da casa, a realização deste ato de reconhecimento foi não apenas justificada, mas também o reflexo da manifestação de uma vontade coletiva legítima, da qual partilharam inúmeros agentes, artistas e indivíduos integrantes do setor cultural, presentes e não presentes no local. Entendo o porquê desta postura e até onde ela se estende. Sua contestação é calcada numa premissa ainda maior: a de que a cultura se faz por si mesma e não deve se limitar aos interstícios da letra fria. No tempo e razões certas é preciso que haja senso e bom senso no que se interpreta sobre ela, evitando que o institucional se sobreponha ao que ele deve representar: nós mesmos. Quando o texto que nos representa – esse domínio da linguagem, campo manipulável de poder - ocupa-se do que é função nossa, deixamos de ser a raiz das coisas. Desta forma, pergunto novamente: quando a forma se sobrepõe ao conteúdo, de quem é a voz? Minha não é.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

O legado de J. Murilo

Por Marcelo Lopes

Do pouco de mineiro que os baianos têm - sobretudo nós do sudoeste e sul do estado - há em comum um muito que guardamos bem quietos, ambos, irmanados por uma natureza indelével. O jeito conquistense, que nos difere por uma “sonsidão” mal disfarçada, não se apresenta como um defeito. De outra ordem, é ela que vela, sob camadas espessas, as inquietações e indisfarçáveis potenciais para a criatividade humana, tornando esse nosso Sertão da Ressaca um lugarzinho bom pra parir e atrair gente “retada”.

Foto: luzdefifo.blogspot.com
Por isso, nem importa muito os caminhos de ordem prática que trouxeram para cá, há quarenta anos, uma figura como o artista plástico J. Murilo. Foi a sintonia a culpada, e importa é que ele ficou. Esse mineiro de Cordisburgo trocou a terra de João Guimarães Rosa, onde nasceu, pela de Glauber Rocha. Não que isso o levasse a fazer cinema; na verdade, sua realidade à baiana o fez reler a obra de Guimarães Rosa sob a descoberta da dimensão do mais belo primitivismo, marcando toda a identidade da sua obra de pintor. Em suas próprias palavras, ...sempre quis pintar o primitivo, o naïf como os franceses falam”.

Foto: Ailton Fernandes
Ao se fazer conquistense, falou alto no coração as nossas parambeiras sertanejas, que se misturaram aos seus temas nativos em cores e texturas tantas. Nelas fez renascer, espremidas pelos seus dedos nas tintas de inúmeras obras, as vilazinhas, as paisagens, os homens e mulheres, a natureza desembrutecida pelo olhar zeloso do artista. Como bem define o texto de apresentação do seu site, “seu trabalho sobre canudos é monumental e suntuoso, menos pelas dimensões murais e religiosas do que pela magnífica interpretação que nos transmite como se fosse um euclidiano nascido nas veredas grandes de um sertão cosmológico.” De inspiração tão admirável quanto essa assim nasceram produções como a exposição Janela do Sertão, e outras tão próprias do universo roseano, a quem tributou a série intitulada O Diabo nas Veredas Mortas, onde figuram as exposições O Cortejo de Diadorim, Medeiros Vaz, Bambual do Boi, dentre outras. São obras que de tão sensíveis e poderosas que dão vontade de encher os olhos de água ou soltar um palavrão.

Eu fiz os dois.

E então, da mesma forma como muitas e muitas pessoas (aquilo que o sertanejo costuma chamar de “ruma de gente”), por motivos mesmos e diferentes, encho novamente os olhos d´água e deixo o palavrão correr solto porque hoje, na manhã do dia 18 de Abril de 2013, aos 76 anos, J. Murilo nos deixou para trocar cores com Guimarães Rosa em parambeiras mais tranquilas, após uma parada cardíaca que nos privou da sua convivência.

Foto: Ailton Fernandes
Premiado, admirado, respeitado como artista e patrimônio da cultura brasileira, J. Murilo nos faz ver, assustados, nossa sorte e responsabilidade. Sorte, por motivos óbvios: pelo (bom) orgulho de tê-lo como um nosso representante na cultura; responsabilidade pela triste realidade de termos que lutar para que sua memória - que se junta hoje a nomes como Camillo de Jesus Lima - não se pulverize na falta de interesse popular, que dá conta até de histórias antigas das novelas, mas é incapaz de reconhecer a beleza criativa dos seus pares, agora e depois.

Estamos de luto por tudo o que ele significa para a arte, a cultura, o imaginário popular e história da nossa região, estado e país. Estamos de luto pelo talento e pela pessoa que não mais compartilha sua presença conosco. Deixo (em coro com nossa ruma de gente) um forte e sincero abraço aos seus familiares, e agradecimentos profundos à sua memória e legado.


Livro Roma Negra será lançado em Conquista



Release do evento

Será lançado no próximo dia 27, sábado, em Vitória da Conquista, na livraria Nobel do Shopping Conquista Sul, o livro Roma Negra, do jornalista Robson do Val. Trata-se de um romance histórico que tem como pano de fundo os anos difíceis que o país viveu pouco antes da abolição da escravatura.

O livro segue uma tendência literária observada no Brasil ultimamente, da suavização dos fatos históricos através de uma linguagem mais popular, que além de ser mais acessível ao grande público, torna a leitura mais agradável. Em Roma Negra, o autor arrisca ainda mais, reproduzindo os diálogos dos personagens e reconstituindo as cenas em ritmo de aventura, prendendo o leitor à trama do início ao fim. É um livro para quem gosta de saber mais sobre a nossa história e, ao mesmo tempo, sentir o prazer de uma leitura leve e agradável.

O autor, Robson do Val, já trabalhou em emissoras das principais redes de TV do país, Globo, SBT, Rede Brasil; e já produziu mais de trinta documentários para a televisão, tratando dos mais variados temas, com destaque para os trabalhos que retratam a vida de personagens importantes, como Jorge Amado, Irmã Dulce, Moraes Moreira e Mãe Stella. Não percam!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Territórios aonde, cara pálida?


Por Marcelo Lopes

Um dos maiores problemas na qualidade de vida do brasileiro, gerador de uma crise profunda na realidade social em que vivemos é a concentração econômica. Uma questão que nasceu como resultado do longo processo histórico que ainda hoje nos define. Moldada numa lógica torta desde a colonização, iniciada aqui quando da repartição de todo o território com as Capitanias Hereditárias, quer eram no final das contas imensas faixas de terra nas mãos de pouquíssimos donos. Eram cedidas pela Coroa Portuguesa por meio da doação de lotes de terra com a tarefa de colonização e exploração destas áreas a particulares. Foram nossos primeiros latifúndios.

Dados antigos com realidade atual
De lá para cá, tudo foi feito para que a detenção do poder da terra, da economia, da política e do conhecimento (essa ferramenta libertadora) se mantivesse circunscrita a um número reduzidíssimo de pessoas e lugares. Ainda hoje, no país, seus efeitos são extensos. Não se manifestam apenas na dicotomia socioeconômica entre o Norte/Nordeste e o Sul/Sudeste, distanciados pela diferença na concentração de recursos, mas expressos em toda uma gama de práticas incorporadas colateralmente, como o bairrismo, o preconceito e a dinâmica social, flutuando em camadas mais sutis (às vezes nem tão sutis assim), podando, sobretudo, oportunidades de desenvolvimento humano mais equilibradas geograficamente dentro do país. Também em decorrência deste contexto, por muito tempo se ouve falar do desequilíbrio econômico provocado pela alta concentração de recursos e investimentos na metade sul do Brasil, especialmente no eixo Rio/São-Paulo. São críticas feitas dentro e fora de regiões menos favorecidas, num debate longo e lento, sem muitas transformações efetivamente consideráveis.

Num âmbito mais próximo da nossa realidade estadual, estes mesmos debates fazem parte da pauta do que vem se discutindo na Bahia em termos de políticas públicas. Há alguns anos, seguindo diretrizes pontuadas pelo governo federal, o estado, já na gestão Wagner, adotou em sua estrutura os chamados de Territórios de Identidade. Segundo o site oficial do Governo da Bahia, o objetivo é “identificar prioridades temáticas definidas a partir da realidade local, possibilitando o desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as regiões”, reconhecendo “a existência de 27 Territórios de Identidade, constituídos a partir da especificidade de cada região”. Sob essa perspectiva são também pensadas as políticas locais para a cultura.

Ou pelo menos era assim, a princípio.

Simbologia: no site da Secult a fita do Senhor do Bonfim ilustra a cultura
de Salvador como se a foto contemplasse todo o estado. Será?
Na prática, funcionava desta forma: o direcionamento dos recursos para a realização de iniciativas culturais era aberto ao acesso público via editais, direcionados a cada Território na busca do atendimento as suas especificidades. Em não se habilitando projetos em número satisfatório, os demais recursos eram redistribuídos proporcionalmente para os demais territórios. Essa lógica visava oportunizar aos 417 municípios do estado o acesso a recursos para suas mais diversas e legítimas manifestações, por mérito natural, tendo por critério de aprovação - na disputa entre seus pares - a adequação da proposta à linguagem de um projeto que comprovasse por A + B a justeza da sua manifestação. Como disse, pelo menos era assim.

Nos últimos dois editais lançados pela SecultBa, fica cada vez mais patente que a atual gestão da secretaria não acredita que a concentração de recursos numa só região seja de fato um problema. Por isso pergunto: será que, por uma visão muito “moderna” de gestão, se acredite mesmo que um processo equivalente ao de colonização do interior seja a salvação, a partir do qual o beneficiamento de uma metrópole irradie cultura por pelos poros para todo o território? Se não é, parece.

Ironias à parte, esta concentração é um fato. A política dos Territórios deixou de ser uma referência para se tornar apenas uma nomenclatura na tabela: os editais, desde 2012, desconsideram as especificidades de cada região e abrem indistintamente para todo o estado o acesso aos recursos para a cultura, com o digníssimo termo “democrático”, pontuado nos relatórios do órgão quando da divulgação dos resultados. Efetivamente, retonarmos à concentração desproporcional de projetos aprovados na região metropolitana de Salvador em detrimento à total desconsideração ao resto do estado. Somente no setor audiovisual foram 84% (DOE, Março/2013) no território da capital. Isso não é prova de competência, apenas de protecionismo.

Em argumento institucional contrário, é comum se ouvir que os territórios não dão conta de inscrever projetos para as demandas abertas e que por isso foi preciso repensar a lógica dos editais. Ora, para grupos e artistas do interior o que se chama de “lógica dos editais” ainda é uma espécie de bicho de sete cabeças, e mesmo que não o seja, subtende um domínio de linguagem técnica muito complexa, que pouco se encaixa na realidade de muitos artistas no interior, mais afeitos à dinâmica local de sua própria arte. Reargumenta-se então que o estado oferece cursos de capacitação para tanto e que ainda assim os resultados são ínfimos. Neste caso, afirmo categoricamente: os editais são uma realidade recente, que não chegou sequer a maturar-se Brasil afora, e são pouquíssimos os que dominam sua linguagem. Cada órgão concedente desenvolve seu próprio modelo para edital e formulários, sempre com diretrizes diversas dos demais, exigências legais, documentos, procedimentos, critérios, certidões, habilitações e referências legais as quais mal temos tempo de nos adaptar.

Dois ou três cursos de capacitação não mudam a realidade de décadas de práticas na cultura brasileira. Se o modelo não dá conta, avance e refaça-o, não há desculpa para o retrocesso. Se a política de territórios é muitíssimo mais recente, como esperar que produtores, artistas e demais agentes da cultura, afeitos organicamente na feitura de suas artes - muitos ainda em vias de formalização profissional - detenham em tão pouco tempo o domínio técnico para provarem que são de fato artistas? Que recursos materiais e consultivos têm disponíveis para tanto? E, quando os conseguem, por quanto tempo os tem em mãos? A secretaria acredita mesmo que a dinâmica competitiva do mercado da região metropolitana é a mesma no interior do estado?

E por isso, de fato, não há competição. Há ainda dificuldades complementares: quando o próprio MinC exige dos proponentes comprovação de apenas um ano de exercício na área que se pleiteia, levando em conta até menos tempo, a depender do histórico da equipe encarregada, a SecutBa exige três de comprovação formal. Como pensar, por exemplo, a realidade da produção audiovisual nesses termos no interior em comparação com a capital do estado?

Temos aqui, em escala regional, a mesma lógica da concentração que separa Norte e Sul brasileiros. Entre o final de março e primeira quinzena de abril de 2013, é possível consultar os resultados dos últimos editais no Diário Oficial do Estado. Na coluna “território de identidade” – esta mesma que deveria parametrar os tais dados democráticos – é possível elencar a origem dos projetos aprovados. A partir daí, tirem suas próprias conclusões.

E se chegarem a conclusões similares, passem adiante, reivindiquem, compartilhem nos e-mails de amigos e dos nossos representantes do executivo e legislativo as suas opiniões. Façam-se ouvirem... porque mesmo aqui, na colônia, nossa cultura se impõe.