quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Curta-metragem em busca de fontes de pesquisa


Por Marcelo Lopes

O documentário “Contra o Veneno Peçonhento do Cão Danado trata de registrar recortes históricos de uma prática popular conhecida no Nordeste como o “Santo Lenho”: um ato simbólico e sincrético de proteção sobrenatural que “fecha o corpo” do praticante. Uma tradição pouco divulgada em manifestações públicas, segredada entre seus iniciados, mas difundida pela população por meio de “causos” curiosos e de relatos episódicos aparentemente desconexos do tema. O Santo Lenho se notabilizou em episódios históricos como o da “Chacina do Tamanduá”, ocorrida no final do século XIX em Vitória da Conquista, no então distrito de Belo Campo, e em inúmeros casos de pessoas dotadas de poderes “sobrenaturais”.

A crença no Santo Lenho - segundo a Igreja Romana, um pedaço da cruz original de Cristo - chegou até aqui pelas tradições da formação católica de Portugal, onde a devoção a esta relíquia medieval se fixou como símbolo religioso e prova de fé, originando igrejas e celebrações. Em terras tupiniquins, no entanto, adquiriu contornos muito próprios. Sua imagem se incorporou ao repertório de objetos de adoração, signo de proteção, intermediado ou não por santos protetores, por aspectos da cultura popular brasileira, em especial, a nordestina. Seu desenvolvimento no Brasil adicionou, para além das crenças europeias, contornos indígenas e africanos que ao longo do tempo se incorporaram ao caldo cultural do sincretismo religioso do país.

Sob muitos aspectos, dadas as suas especificidades, a prática do Santo Lenho é, na verdade, um “ato mágico” de invulnerabilidade que salvaguarda o iniciado de armas de fogo, armas brancas, torna-o invisível aos inimigos e o faz capaz de tantas outras proezas sobrenaturais. No entanto, longe de se ater a qualquer discussão direta sobre questões religiosas, o documentário se concentra em refletir sobre o imaginário popular, o vínculo do Santo Lenho com os indivíduos ligados às relações de poder e violência que povoam o imaginário popular de histórias, casos, mitos e episódios “verídicos”.

A proposta do documentário, aprovado em julho de 2012 pela Fundação Cultural do Estado da Bahia e publicado no Diário Oficial do Estado dia 20 de Dezembro de 2012, numa parceria entre a Produtora TV Local e o Instituto Mandacaru de Inclusão Sociocultural, deve inaugurar uma série projetos voltados para a reflexão sobre a cultura popular. A produção se valerá, num primeiro momento, de uma pesquisa prévia de onde se embasaram os dados sobre o tema, tangenciada nas discussões sobre a memória, a cultura e as tradições populares. Buscará registros da história oral, depoimentos de estudiosos e indivíduos direta e/ou indiretamente envolvidos com as histórias e as manifestações do Santo Lenho.

Delineando geograficamente as cidades baianas do sudoeste do estado como Vitória da Conquista, Barra do Choça, Lucaia, Planalto, Belo Campo, Caculé, Guajerú, entre outras da região e estendendo-se ainda à relatos em Salvador, o projeto estabelece um roteiro de entrevistas com personagens populares que de alguma forma vivenciaram, partilharam e/ou testemunharam tais eventos e crenças.

Desde já, buscando dar suporte à pesquisa, a equipe do documentário vem solicitar ajuda junto aos parceiros, amigos, leitores do Sintoma de Cultura e quaisquer outros colaboradores que possam apontar fontes orais, personagens e histórias populares sobre o tema para enriquecer os depoimentos do documentário, muito especialmente nas cidades pontuadas acima citadas. Aqueles que tiverem quaisquer informações pertinentes, comentem neste artigo ou entrem em contato pelo e-mail institutoculturalmandacaru@gmail.com e tchellos@gmail.com, deixando apontamento de histórias e personagens (sem esquecer seus contatos de e-mail e telefone). A produção do curta terá início nos primeiros meses de 2013, com previsão de oito meses de execução.


Outros contatos da equipe:

MARCELO LOPES
Coordenação Geral/ Direção/ Roteiro

LUCIANA OLIVEIRA
Produção/ Comunicação

EDUARDO RODRIGUES
Diretor de Fotografia/ TV Local Produtora

ANTONIO MARCOS ALMEIDA
Pesquisa/ Produção



Salve a cultura popular e o cinema brasileiro!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Festival Avuador e o Consumo Cultural


Por Marcelo Lopes

Se podemos dizer que o mundo hoje não é compreendido da mesma forma que há vinte, trinta anos, pensar igual a todo mundo indica duas explicações: ou você é consumidor consumível ou é um consumidor produtor. Na primeira categoria se inserem aqueles que, pelos motivos mais diversos, se encaixam na descrição de Oscar Wilde, que “viver é a coisa mais rara do mundo (...) a maioria das pessoas apenas existe”. Entre estes, estão os que invariavelmente de fato não pensam sobre sua condição humana e social, estão à margem das iniciativas e se deixam levar pelas conjunturas. São os que se mantêm antigos dentro do contexto atual: consomem o que lhe são oferecidos, sem pensar de onde vem, pra onde vai, os porquês, os lugares, os reflexos e, por isso mesmo, seguem consumindo e bailando tontamente na onda das novelas, dos cortes de cabelo, das músicas da vez, nas opiniões de alheias, repetindo no bate-papo diário os hits da internet com uma veemência tão aguda como uma palavra de ordem. Vivem no lugar mental onde ter é melhor que ser. Consomem e são consumidos na mesma proporção e velocidade. Falta-lhes acesso ou, o que é pior, a opção por educar-se. Basicamente.

No outro lado do muro, estão os que se predispõe a entender o que lhes sai da boca e, principalmente, o que lhes chegam ouvido adentro. Tendem a querer entender de que lugar fluem suas opiniões, o que os influenciam e, em maior ou menor grau, percebem que nos últimos vinte ou trinta anos, o mundo deu uma guinada no acesso a informação, essa sim, capaz de gerar mudanças humanas.

Conceitos tão em voga hoje como interatividade e compartilhamento tornam o acesso à informação, pelos suportes tecnológicos, uma realidade capaz de ofertar um universo de percepções. Por causa desses novos modelos é possível ter contato com todo tipo de produção individual e coletiva que até poucas décadas atrás era monopólio de grandes estruturas: gravar discos sem gravadoras, fazer filmes sem produtoras, publicar sem editoras, fotografar sem ter laboratórios, divulgar sem rádios ou TV’s e daí em diante. Não importa qual seja o conteúdo, dominar essa nova linguagem permite um trânsito mais próximo entre que se manifesta e seu público consumidor. É nesta larga diferença que se manifestam com maior frequência e fluidez os consumidores produtores, indivíduos que não deixaram de consumir a gama de produtos viabilizadas pela lógica do capital (mídia, industrializados, conceitos), mas teram, pela experimentação da sua própria voz e de seus afins, a possibilidade de refletir sobre o que consome.

Programação traz também espaço para reflexão
No que nos interessa diretamente, essa nova trajetória também é o que alarga os caminhos para a produção criativa. A novidade dos conceitos gera outros formatos na produção cultural, integra a lógica das políticas públicas, agrega esforços, solidariza-se com ideias afins, democratiza opiniões, propõe conceitos, informa, congrega, modela.

Nos dias 13 e 14 de Dezembro, o Festival Avuador – música e processos colaborativos traz, além da sua programação musical com nomes destacados do circuito independente nacional (veja aqui), discussões abertas sobre esses novos modelos.

As mesas- redondas acontecerão no espaço do Viela Sebo Café, em Vitória da Conquista, das 17h às 18h. Espaço aberto para opiniões diversas de quem consome, é consumido, produz e é produzido.

Veja a programação E PARTICIPE:

MESA 1: “PLATAFORMAS PERMANENTES PARA CIRCULAÇÃO ARTISTICA”
Dia:13.12.12
Horário: 17 às 18h
Participantes:
Vince de Mira e Fernando Mariano (Espaço Commons)
Maris Stella Schiavo (Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima)
Euvaldo (Viela Sebo Café)
Luciano Mattos (IBahia)
Larissa Uerba (Rede Motiva)
Manno Di Souza (Rede Motiva)
Gilmar Dantas (Fora do Eixo)

MESA 2: “COMUNICAÇÃO, REDES DE IDENTIDADE E PRODUÇÃO DE NOVOS CONTEUDOS”
Dia:14.12.12
Horário: 17 às 18h
Participantes:
Luciano Mattos (IBahia)
Rafael Flores (O Rebucetê)
Marcelo Lopes (Sintoma de Cultura)
Fernando Mariano (Inmagimna)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Projeto de Porto Seguro disputa Prêmio Anu/CUFA

Por Luciana Oliveira

Premiação é concedida pela Central Única das Favelas
O Projeto Geração de Sons da Escola Orquestra Sinfônica do Descobrimento (OSD) é uma das iniciativas indicadas a concorrer como representante da Bahia ao Prêmio Anu. O prêmio, que está em sua terceira edição, é idealizado e realizado pela Central Única das Favelas (CUFA) e tem como principal objetivo destacar ações de toda natureza desenvolvidas dentro das favelas de todo o Brasil e que contribuam para o desenvolvimento humano e social destes espaços.

http://www.premioanu.com.br/projeto_voto.php?est=BA
O Prêmio Anu está dividido em três fases. A OSD foi um dos 10 projetos baianos indicados por colaboradores de vários segmentos da sociedade, passou pela peneira dos jurados e está entre os cinco selecionados para concorrer como representante estadual. Nessa fase apenas uma iniciativa é escolhida, através de voto popular online, entre 10 a 31 de dezembro, no site do prêmio. A mesma regra valerá para escolha dos três projetos nacionalmente vencedores. “Contamos com o voto de todos, conclamamos não só Porto Seguro, mas todos do estado que conhecem o trabalho sério que a OSD desenvolve, o voto será o reconhecimento de cada um”, detalha Margarete Vital Araujo, coordenadora pedagógica da OSD.

É a segunda vez que a OSD participa de uma seleção de premiação. A primeira foi em 2007, quando a entidade concorreu ao Prêmio Cultura Viva, uma iniciativa do Ministério da Cultura e patrocínio da Petrobras. A OSD ficou entre os noves projetos nacionalmente selecionados.

Geração de Sons

O projeto teve início em 2011 e destina-se a 60 pessoas com deficiências físicas, sensoriais e com síndromes. São desenvolvidas oficinas musicais referenciadas na Musicoterapia. Todas as atividades contam com o patrocínio do Criança Esperança/ UNESCO e da Petrobras. “Sempre observamos a demanda por ações de educação musical voltadas para a pessoa com deficiência, mas nos faltava recursos. Com o patrocínio pudemos desenvolver esse trabalho de enorme significado para nós, pois muitos alunos do projeto já tocam ou cantam nos grupos musicais e no coral, é uma vitória que nos orgulha muito”, destaca Moana Viterbo Martins, coordenadora geral da OSD.

O Geração de Sons tem o apoio do Centro de Educação Inclusiva e Atendimento Especializado (Ceame), órgão da Prefeitura de Porto Seguro e atualmente constitui uma dos poucos espaços voltados para a pessoa com deficiência, já que a cidade não conta com Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) há mais de três anos. “Além de tudo de bom que o projeto nos trouxe ele promove, pela música, o que deveria ser uma prática espontânea e natural: o encontro de pessoas, sem o obstáculo da diferença”, afirma Moana.

Como votar
Escolha o estado da Bahia e vote no Projeto Geração de Sons da Associação Sociedade dos Músicos do Extremo Sul


Conheça o Geração de Sons


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Festival Avuador esquenta a praça

Por Marcelo Lopes

Há três anos integrando a programação de final de ano o Festival Avuador (nome sugestivo, inspirado no biscoito “avuador” produzido em Vitória da Conquista), é mais um exemplo dos bons circuitos alternativos de música que vieram pra ficar no município.

No seu primeiro ano (2010) a iniciativa atraiu 900 pessoas para três atrações locais e o grupo Radiola, de Salvador. Em 2011, o projeto tomou nova dimensão e alcançou mais de 3,3 mil espectadores para ver 10 apresentações e participar de duas oficinas: entre os artistas participantes estavam a Banda Eddie, Lucas Santana, O Círculo, Retrofoguetes e outros nomes representativos da música da Bahia.

Realizado pela Maquinário Produções em parceria com o Circuito Motiva e Catrupia Produções (executora local), a edição 2012 do Festival Avuador – música e processos colaborativos acontece na cena musical conquistense, entremeando o Festival Suiça Bahiana (Arena Mira Flores / 07 e 08 de Dezembro) e o Natal da Cidade (15 a 25 de Dezembro), trazendo na sua grade atrações de peso para o espaço da Praça Barão do Rio Branco, nos dias 13 e 14: Karina Buhr, Curumin, Siba, Baiana System, Distintivo Blue, Paulo Gabiru, PauloMacedo e Cinco Contra Um.

O Festival tem o patrocínio da Conexão Vivo e da SECULT/FazCultura e apoio da Prefeitura Municipal, SESC, IBahia, Instituto Mandacaru e Uesb.

Não percam!