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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Palestra de Ariano Suassuna em Conquista

Por Marcelo Lopes

Dramaturgo. Poeta. Romancista. Nascido em 1927, na Paraíba, construiu muito da sua história literária em Recife, Pernambuco. Ariano Suassuna é dessas figuras emblemáticas da cultura brasileira, aguerrido defensor do nosso patrimônio material e imaterial, de onde bebe incansavelmente nos elementos mais fundamentais para compor sua obra.
Dono de um senso de humor muito inteligente, doce e ácido ao mesmo tempo, comove pela entrega à paixão com que defende e exalta os valores brasileiros.
O autor de “Auto da Compadecida” e “A Pedra do Reino”, abriu a segunda edição do Festival da Juventude, em Vitória da Conquista, no último dia 10 de Maio de 2013.
Para os que não puderam assistir, aí vai mais uma das chamadas aulas-espetáculos do mestre da literatura. Sempre um tributo àquilo que chamamos Brasil.



Registro da palestra de abertura da segunda edição do Festival da Juventude com o dramaturgo e poeta Ariano Suassuna, em Vitória da Conquista (BA), dia 10 de Maio de 2013. Produção e edição Secom/Pmvc.

domingo, 5 de maio de 2013

O apoio a Maris Stella e a ordem dos loucos

Por Marcelo Lopes

Um dos textos mais geniais da nossa literatura tem por nome “O Alienista”, do célebre escritor Machado de Assis, o maior nome das letras no Brasil. No livro, a personagem central é Simão Bacamarte, um médico conceituado que passa a usar de critérios interpretativos da psiquiatria para julgar o comportamento das pessoas, enquadrando-os em várias espécies de loucura, e, nisto constatando, resolve interná-los um a um. No intuito de ser criterioso, comedido e dogmático em suas crenças técnicas, Bacamarte interna toda a cidade. Por fim, na conclusão de que, se afinal todos são loucos, e a normalidade ao qual somente ele se enquadra é a exceção, a definição do que está certo e errado fica patente: o médico liberta a todos e se enclausura no próprio hospício.

Há um hospício a espera de mais alguém na Bahia.

Alguém, que no tecnicismo das suas atitudes, segue em sentido contrário ao sentimento, à noção mais legítima do que é cultura e ao reconhecimento de uma cidade inteira ao trabalho de Maris Stella Schiavo Novaes como gestora do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Fato: Maris Stella acaba de ser exonerada – pasmem – por dar ao então falecido artista plástico J. Murilo, um ícone da cultura local, sua devida homenagem, permitindo seu velório no foyer do Centro, contrariando com isso a regra fria que normatiza tais espaços na Bahia. A alegação da Secretaria é que esta foi uma atividade particular, um velório puro e simples, que nada tem a ver com a cultura. No entanto, foram, em peso, artistas, produtores, atores, músicos, cineastas, escritores e inúmeros outros admiradores, os que compuseram o público daquela noite, das 16h às 22h, quando o velório foi transferido para outro lugar (este sim, particular). Um perfil de plateia mais significativa que em muitos espetáculos propostos pela própria SecultBa. Uma manifestação daqueles que, como representantes legítimos da cultura, marcaram sua presença para homenagear outro dos seus.

Sejamos sinceros: este é um espaço da cultura, para a cultura e que tem a cultura como finalidade, ou um tributo à burocracia? De quem de fato é o Centro de Cultura? De quem manda, fazendo obedecer quem tem juízo, ou de nós – pobres mortais – que, em tese, damos sentido a toda esta instituição que nos representa? Já me sinto sendo levado à minha cela, com uma tabelinha no prontuário pendurada ao pescoço, marcando os horários dos meus remédios a serem ministrados pelos enfermeiros da SecultBa.

O problema sempre é mais embaixo do que parece. Nos fazer crer que este foi o motivo real da exoneração, é, no mínimo, nos trocar da categoria de loucos para idiotas. Melhor seria que o órgão, sob o mesmo tom democrático que apresenta em nota pública a justificativa da exoneração, mantivesse abertos os ouvidos ao que toda a cidade de Vitória da Conquista acha desta atitude, no mínimo, contraditória. Nas duas formas de nos encarar, fica evidente que o ego de alguém - assim como ocorreu com Simão de Bacamarte - ainda não foi submetido a uma autoavaliação reveladora do quão distorcida é a sua percepção (sobre a cultura). Mais ainda: a empáfia da posição de poder, que a tudo quer medicar em benefício do coletivo, esquece quem de fato é o coletivo, deixando de lado o que é importante, sem levar em conta aqueles que dão legitimidade ao direito de sentar-se na cadeira que tão burocraticamente ocupa.

Nos últimos meses da gestão do CCCJL foi explícita a mudança e os avanços na dinâmica do espaço, com a total ocupação pela comunidade dos lugares de produção, discussão, reflexão e vivência pela cultura. Aquilo que chamam de cargo de confiança – lugar segundo o qual a SecultBa alega Maris Stella não ter sido obediente - perde o total sentido quando nos perguntamos, “confiança de quem?”.

Espero de verdade que este lugar cada dia mais torto que chamamos Bahia não seja o hospício de ninguém. Mas, ao mesmo tempo, que fique claro não temos medo de agulhas.


Segue abaixo o link da Petição Pública que pede a revogação da exoneração de Maris Stella Novaes:

#FicaMarisStella – Pela Democratização dos Espaços Culturais!
http://www.avaaz.org/po/petition/FicaMarisStella_Pela_Democratizacao_dos_Espacos_Culturais/?tvneGeb


 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Mini-curso sobre Hitchcock no Festival da Juventude


Por Marcelo Lopes

Cinema é, antes de tudo, uma linguagem. O suporte é industrial, o conceito é artístico, mas, em última instância, o que melhor define esse universo mágico de narrativas é o entendimento de que se trata, de fato, de uma linguagem.

Hitchcock dirigindo Psicose (1960)
Assim, para contar aquilo que imagina, com temas reais ou de puro delírio, o ser humano encontrou no cinema um mundo de realizações. Tornou-o um porta-voz sem igual, o apresentador e o apresentado, o mestre de cerimônias e a cerimônia em si, o narrador e a narrativa, forjado, desde o princípio, para falar ao imaginário de milhares de pessoas. Inúmeros foram os mestres desta linguagem: Griffith, Eisenstein, Buñuel, Chaplin, Welles, Kurosawa. Todos, a seu tempo e em contextos próprios, fizeram da arte de contar histórias pela imagem e pelo som, um exercício da fantasia submetido à técnica. Um dos mais emblemáticos, entre estes gênios do cinema, foi o inglês Alfred Hitchcock.

Comumente conhecido como o mestre do suspense, Hitchcock foi muito além do simples rótulo que se colou a seu nome: para além dos sustos que pregava, foi responsável pela criação de uma forma didática de contar as histórias que criou, estabelecendo métodos, formatos, técnicas, com a única – e primordial – finalidade de conduzir o público às emoções que determinava, como um maestro regendo uma orquestra. Sua trajetória se confunde com a própria história do cinema: passou pelos primeiros instantes em que o teatro e a sétima arte se confundiam, viveu e acompanhou o cinema mudo, as imagens preto e branco, rendeu-se (ao seu modo) ao som e à cor, moldou-se à linguagem híbrida e mais moderna proposta pela televisão até, por fim, construir, com sua personalidade no mínimo inusitada, uma obra reverenciada e que ainda hoje faz escola entre os grandes cineastas que vieram depois dele.

Hitchcock e sua forma única de construir história é o tema do mini-curso que estaremos ministrando, a jornalista Luciana Oliveira e eu, no próximo dia 12 de Maio, às 14h, no Centro de Cultura Camillo de Lima, como parte da programação do II Festival daJuventude, promovido pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. “Alfred Hitchcock e a construção da narrativa cinematográfica” é a segunda parceria do Instituto Mandacaru com a PMVC na promoção de oficinas de cinema no Festival; a primeira, em 2012, tratou do cineasta Quentin Tarantino. Vale conferir.




O QUE: Mini-curso Alfred Hitchcock e a construção da narrativa cinematográfica

QUANDO: 12 de Maio de 2013

ONDE: Centro de Cultura Camillo de Lima

COMO: (77) 3424-8594 | 3422-8215 / festivaldajuventudevc@gmail.com /
http://www.pmvc.ba.gov.br/festivaldajuventude/?page_id=466#wpcf7-f1-p466-o1

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Existirmos: a que será que se destina?

Por Marcelo Lopes

Às vezes fico mesmo pensando se somos protagonistas nisso tudo. Se, em algum lugar por aí, deixamos de ser razão para nos tornarmos a desculpa de alguém para alguma coisa. A lógica se inverte e o que de fato é raiz vira folha e é soprada para fora do cenário. E muitas raízes vivem voando por aí, secando ao sol, já que, sendo folhas agora, são muitas, e se repõem facilmente para serem sopradas novamente ao alheio.

É assim com a educação, onde o professor é o culpado se há greve - por condições que já passaram do parâmetro do desumano - e a preocupação maior é: “como pode tantos alunos fora das salas de aula?”, “e quem vai ficar com meus filhos se eu tenho que trabalhar?”, ou “e o vestibular?”.

Da mesma forma é com a grande mídia, inoculadora da ideia de que a programação existe da forma que existe porque é o que o povo gosta. São programas de TV idiotizantes, que quando não espirram sangue em noticiários “jornalísticos” nos adoçam a boca com corpos sarados e sacolejastes; são músicas despejadas aos borbotões, em todos os espaços possíveis, já passadas em muito do critério do gosto para se tornarem questão de saúde pública tamanho o ruído que produzem e o processo químico que desencadeiam ao inutilizar milhares de neurônios por segundo. Como gostar de algo além disto se sequer temos acesso a outra coisa?

Ainda somos obrigados a ouvir frases capciosas como a que justifica que “o povo tem os representantes que merece”, quando nosso maior mérito é nos mantermos regularmente educados para merecer os representantes que temos (sim, porque dessa educação nós usufruímos!). E entre o burocrático e o legalista – entremeio no qual nos perdemos muito fácil – há tantos discursos importantes que nunca fomos de fato consultados a avalizar.

Então, fico pensando: por existirmos na cultura, a que será que se destina estarmos aqui? A voz é realmente nossa ou ela reproduz a existência de outras coisas? Ou, se a voz é nossa, de quem são as palavras? Da ilustração mais generalista ao mais sutil aspecto, assim vivemos. Veja o exemplo abaixo.

No último dia 18 de abril estive no velório do artista plástico J. Murilo, uma das figuras mais expressivas da cultura conquistense, reconhecido por sua obra e também pelo seu bom humor e generosidade. Certo de que viveu como um ser humano feliz deixou amigos e admiradores com a sensação de que findou seu ciclo terreno de forma digna. Ou, como diria Ariano Suassuna, na voz do seu personagem Chicó: cumpriu sua sentença; encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.

Murilo foi velado no foyer do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, das 16h às 22h, a pedido do próprio artista, que, já ciente do seu curto tempo entre nós, manifestou este desejo quando de sua última exposição naquele mesmo espaço, há dois meses. Queria ser homenageado onde sempre militou, na cultura. Nada mais justo.

Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima
Entre inúmeras conversas, saudosistas ou não, que invariavelmente cercam estes momentos, uma delas me chamou a atenção pelos mesmos motivos que aqui venho argumentando: por regra, norma, artigo, prolegômenos, lei, determinação, formalidade, mandamento e preceitos que regem a gestão dos centros culturais do estado, uma homenagem dessa natureza não poderia ocorrer. Consultando o texto da referida diretriz, é possível observar que ela trata textualmente da vedação de “utilização de espaços para eventos particulares”, no qual se incluem velórios. Na aplicabilidade crua da regra nada há o que contestar já que as normatizações são necessárias para qualquer gestão. O que é preciso entender, no entanto, é que o que se viu ali, naquela quinta-feira, extrapola o simples interesse particular.

Por entendimento da diretoria da casa, a realização deste ato de reconhecimento foi não apenas justificada, mas também o reflexo da manifestação de uma vontade coletiva legítima, da qual partilharam inúmeros agentes, artistas e indivíduos integrantes do setor cultural, presentes e não presentes no local. Entendo o porquê desta postura e até onde ela se estende. Sua contestação é calcada numa premissa ainda maior: a de que a cultura se faz por si mesma e não deve se limitar aos interstícios da letra fria. No tempo e razões certas é preciso que haja senso e bom senso no que se interpreta sobre ela, evitando que o institucional se sobreponha ao que ele deve representar: nós mesmos. Quando o texto que nos representa – esse domínio da linguagem, campo manipulável de poder - ocupa-se do que é função nossa, deixamos de ser a raiz das coisas. Desta forma, pergunto novamente: quando a forma se sobrepõe ao conteúdo, de quem é a voz? Minha não é.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

O legado de J. Murilo

Por Marcelo Lopes

Do pouco de mineiro que os baianos têm - sobretudo nós do sudoeste e sul do estado - há em comum um muito que guardamos bem quietos, ambos, irmanados por uma natureza indelével. O jeito conquistense, que nos difere por uma “sonsidão” mal disfarçada, não se apresenta como um defeito. De outra ordem, é ela que vela, sob camadas espessas, as inquietações e indisfarçáveis potenciais para a criatividade humana, tornando esse nosso Sertão da Ressaca um lugarzinho bom pra parir e atrair gente “retada”.

Foto: luzdefifo.blogspot.com
Por isso, nem importa muito os caminhos de ordem prática que trouxeram para cá, há quarenta anos, uma figura como o artista plástico J. Murilo. Foi a sintonia a culpada, e importa é que ele ficou. Esse mineiro de Cordisburgo trocou a terra de João Guimarães Rosa, onde nasceu, pela de Glauber Rocha. Não que isso o levasse a fazer cinema; na verdade, sua realidade à baiana o fez reler a obra de Guimarães Rosa sob a descoberta da dimensão do mais belo primitivismo, marcando toda a identidade da sua obra de pintor. Em suas próprias palavras, ...sempre quis pintar o primitivo, o naïf como os franceses falam”.

Foto: Ailton Fernandes
Ao se fazer conquistense, falou alto no coração as nossas parambeiras sertanejas, que se misturaram aos seus temas nativos em cores e texturas tantas. Nelas fez renascer, espremidas pelos seus dedos nas tintas de inúmeras obras, as vilazinhas, as paisagens, os homens e mulheres, a natureza desembrutecida pelo olhar zeloso do artista. Como bem define o texto de apresentação do seu site, “seu trabalho sobre canudos é monumental e suntuoso, menos pelas dimensões murais e religiosas do que pela magnífica interpretação que nos transmite como se fosse um euclidiano nascido nas veredas grandes de um sertão cosmológico.” De inspiração tão admirável quanto essa assim nasceram produções como a exposição Janela do Sertão, e outras tão próprias do universo roseano, a quem tributou a série intitulada O Diabo nas Veredas Mortas, onde figuram as exposições O Cortejo de Diadorim, Medeiros Vaz, Bambual do Boi, dentre outras. São obras que de tão sensíveis e poderosas que dão vontade de encher os olhos de água ou soltar um palavrão.

Eu fiz os dois.

E então, da mesma forma como muitas e muitas pessoas (aquilo que o sertanejo costuma chamar de “ruma de gente”), por motivos mesmos e diferentes, encho novamente os olhos d´água e deixo o palavrão correr solto porque hoje, na manhã do dia 18 de Abril de 2013, aos 76 anos, J. Murilo nos deixou para trocar cores com Guimarães Rosa em parambeiras mais tranquilas, após uma parada cardíaca que nos privou da sua convivência.

Foto: Ailton Fernandes
Premiado, admirado, respeitado como artista e patrimônio da cultura brasileira, J. Murilo nos faz ver, assustados, nossa sorte e responsabilidade. Sorte, por motivos óbvios: pelo (bom) orgulho de tê-lo como um nosso representante na cultura; responsabilidade pela triste realidade de termos que lutar para que sua memória - que se junta hoje a nomes como Camillo de Jesus Lima - não se pulverize na falta de interesse popular, que dá conta até de histórias antigas das novelas, mas é incapaz de reconhecer a beleza criativa dos seus pares, agora e depois.

Estamos de luto por tudo o que ele significa para a arte, a cultura, o imaginário popular e história da nossa região, estado e país. Estamos de luto pelo talento e pela pessoa que não mais compartilha sua presença conosco. Deixo (em coro com nossa ruma de gente) um forte e sincero abraço aos seus familiares, e agradecimentos profundos à sua memória e legado.


Livro Roma Negra será lançado em Conquista



Release do evento

Será lançado no próximo dia 27, sábado, em Vitória da Conquista, na livraria Nobel do Shopping Conquista Sul, o livro Roma Negra, do jornalista Robson do Val. Trata-se de um romance histórico que tem como pano de fundo os anos difíceis que o país viveu pouco antes da abolição da escravatura.

O livro segue uma tendência literária observada no Brasil ultimamente, da suavização dos fatos históricos através de uma linguagem mais popular, que além de ser mais acessível ao grande público, torna a leitura mais agradável. Em Roma Negra, o autor arrisca ainda mais, reproduzindo os diálogos dos personagens e reconstituindo as cenas em ritmo de aventura, prendendo o leitor à trama do início ao fim. É um livro para quem gosta de saber mais sobre a nossa história e, ao mesmo tempo, sentir o prazer de uma leitura leve e agradável.

O autor, Robson do Val, já trabalhou em emissoras das principais redes de TV do país, Globo, SBT, Rede Brasil; e já produziu mais de trinta documentários para a televisão, tratando dos mais variados temas, com destaque para os trabalhos que retratam a vida de personagens importantes, como Jorge Amado, Irmã Dulce, Moraes Moreira e Mãe Stella. Não percam!