terça-feira, 27 de dezembro de 2005

O inacreditável

Segundo Jorge Luis Borges, em O Aleph, para que o inacreditável possa ocupar lugar no real, é preciso que haja apenas um elemento sobrenatural a ser narrado em meio a tudo. Ele se entremearia no cotidiano, nas doses opulentas da vida comum, das nossas pré-noções, no senso comum e, ali, alojada na mais improvável existência, se faria visível ou sensível aos sentidos da história e aos olhos incrédulos dos personagens e leitores.

Mais logo, em Livro de Areia, uma ressalva: "(...) que o sobrenatural, se ocorre duas vezes, deixa de ser aterrador."


São coisinhas que eu vou acumulando no canto dos cadernos, nos papéis no bolso... por que ainda termino meu livro um dia desses.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

O Guardador de Rebanhos

 (Fernando Pessoa)


VIII 

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas...
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!



Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.






Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –
«Se é que ele as criou, do que duvido» –
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.


Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.


E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.


Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.


Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.


Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.


Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.


Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.


Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

O que você quer...

O que você quer
Você não deixa de querer tão fácil
Bêbado você ainda quer
Em perigo você quer
Perdido você ainda quer
O que você quer
O que você quer mesmo
Permanece em você, todo mundo vê
Na cadeia você não deixa de querer
No hospício não deixa de querer
No inferno, ainda quer
O que você quer
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer
O que você quer
Estará com você quando você se lembrar
O que você quer
Estará em você quando você não se lembrar
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer
O que você quer não perde no baralho,
Dinheiro não compra
Conselhos não matam
O tempo não toma o que você quer
Cego você continua querendo
Velho você continua querendo
Onde você estiver
Continua sendo
O que você quer
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer de verdade
O que você quer
O que você quer


(Rita Lee)

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Me aparece cada uma!

Quando a gente se vê numa situação nova, cada pequeno detalhe da nossa atenção para as coisas que nos cercam  funciona quase como uma revelação bíblica a cada esquina. A "mensagem" que nos fala tão claramente, que nos diz que somos, os porquês e nos dá a luz para o dia-a-dia pode vir em forma de qualquer coisinha: da bula de remédio a um livro ou filme, de uma palavra certa (vinda do lugar errado) até o formato do desenho do cocô de passarinho que sujou sua camisa pela manhã.

Hoje, na minha muitíssima situação de regresso ä vida de solteiro, me deparei com essa:


" Quem alisa os meus cabelos?
Quem me tira o paletó?
Quem, à noite, antes do sono,
acarinha meu corpo cansado?
Quem cuida de minha roupa?
Quem me vê sempre nos sonhos?
Quem pensa que sou o rei desta pobre criação?
Quem nunca se aborrece de ouvir minha voz?
Quem paga meu cinema, seja de dia ou de noite?
Quem calça meus sapatos e acha meus pés tão lindos?

Eu mesmo."

(Millôr Fernandes)


......Sacanagem, né?

Pátria muito minha

Há pouco tempo
Tempo pouco
Fiz (e venho fazendo)
Um caminho de volta.
E me vejo revendo gentes

Lugares, sorrisos
Circunstâncias
Desejos e sonhos já
Um tanto esmaecidos pelo tempo...



*********



Pátria minha



A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."


********


... Eis-me, hoje,
de retorno a mim mesmo.

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Um pouco de antropofagia para hoje

"Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

(...)
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. 

Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. 

(...)
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. 

(...)
Só não há determinismo, onde há mistério. Mas que temos nós com isso?"

(Oswald de Andrade - Manifesto antropofágico/1928)


quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Andei ouvindo...

(...)

E alguém igual não há de ter
Então quero mudar de lugar, eu quero estar no lugar
Da sala pra te receber
Na cor do esmalte que você vai escolher
Só para as unhas pintar
Quando é que você vai sacar
Que o vão que fazem suas mãos
É só porque você não está comigo
Só é possível te amar...
Seus pés se espalham em fivela e sandália
E o chão se abre por dois sorrisos
Virão guiando o seu corpo que é praia
De um escândalo charme macio
Que cor terá se derreter?
Que som os lábios vão morder?
Vem me ensinar a falar
Vem me ensinar ter você
Na minha boca agora mora o teu nome
É a vista que os meus olhos querem ter
Sem precisar procurar
Nem descansar e adormecer
Não quero acreditar que vou gastar desse modo a vida
Olhar pro sol só ver janela e cortina
No meu coração fiz um lar
O meu coração é o teu lar
E de que me adianta tanta mobília
Se você não está comigo
Só é possível te amar
Ouve os sinos, amor
Só é possível te amar
Escorre aos litros, o amor


(Composição: Nando Reis)

belas palavras...

"Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança

Em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será


Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras momento


Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras, ao vento"

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

"impossível, impossível vc diz..."

O que são
Dez contra um?
Cem contra meio?
Milhares contra mim?

Como se acha Uma ponta de agulha
Disfarçada de feno
No meio de um
Imenso palheiro?

Como se acerta
O ângulo
Mais agudo de um
Quarto redondo?

O que é de fato improvável?
Não se explica
Uma canção de milênios,
Ser cantada no
Parque infantil
Como uma novidade de ontem.

Nem que a agulha se ache fácil
Ou o ângulo seja onde esteja sentado.
O que é improvável,
Se fui surpreendido
Com a improbabilidade
De conhecer
Improvavelmente?

O que são milhares
De improbabilidades
Contra um
Se esse um existe?

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Faltam dias

Faltam dias no calendário...

Não é possível que não estejam faltando. Parece inacreditável que não estejam. (O frio na barriga é inacreditável).

Há algum tempo percebi que os dias são curtos demais, deviam ter pelo menos 28 horas cada. O tempo tem tido uma relação estranha comigo. Nem ele nem eu nos entendemos bem nos últimos tempos. Às vezes eu não o suporto, às vezes ele me dá um tiro no escuro.

Mas nos últimos dias, ele tem sido generoso... Logo quando eu ahava que sua pirraça seria intragável.

Não que eu esteja fazendo as pazes com ele. Mas parece que estamos em trégua... Não vou dizer que tenho achado isso bom...Mas elogiar, isso também não faço.

Assim também é demais também.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Uma história sobre nós...

Vou contar uma história absurda... conto de fadas....
Em algum lugar indefinido no tempo e no espaço, alguém amarrou um nó. O nó ficou ali, esticado, perambulando por entre pessoas, coisas, histórias, sonhos, medos, cenários.... um nó imenso, mas que, contrário ao que se possa compreender, foi feito para não ser visto. Não-tocável, imperceptível... mas o improvável é um primo distante do impossível e costuma aparecer de vez em quando....
Um dia, do nada, alguém puxou o nó! Puxou e segurou, meio hesitante, mas o manteve. Deixou-o ali, ao lado, sem a afobação dos tolos nem a indeferença dos intimamente estúpidos. E o guardou num lugar à vista. O nó percebeu... tanto percebeu que se deixou mostrar em outra ponta. Timidamente, as duas pontas se moveram... surdamente, aos poucos, tecendo tramas, essas sim, imperceptíveis,...
E sem que houvesse explicação maior, um dia, as duas pontas amarraram duas pessoas... soltas no tempo, perdidas no espaço. Até que então, presas, perceberam que o nó não lhes eram estranho, mais do que isso, era feito dos seus dois cabelos, de pedaços das duas peles, do visgo de ambos os olhos,... que era tecido de histórias incrivelmente parecidas, amarrado com os dons da palavra que brotavam dos dois lados, que era torcido sob uma força descomunal de ardor desmedido,... que se fechava em nó na batida ritmada dos dois corações.
E o que era absurdo virou o incrível, percorre matérias virtuais e alimenta duas vidas como uma imensa fênix renascida nas duas pontas... transformando o conto num canto, num sussurro, num acento no peito... numa paz bem-vinda, num sonho estranho e feliz...

terça-feira, 10 de maio de 2005

Memória...

  Nós: a experiência do fantástico!
Somos todos quase iguais nas nossas diferenças. Uns vieram da Pedagogia, outros da História, da Psicologia, das Letras, da Geografia, da Comunicação... Todos num espaço de convivência plural, privilegiado e cheio de coisas pra ouvir e pra dizer.
É claro, como sempre acontece, uns se afinam mais com outros, se encostam, se falam e se alinham melhor que com outros, mas isso é normal. Há os mais quietos (sempre há), os mais articulados, os mais intectualizados, os que divagam e os que observam. Há os que pouco dizem, mas quando dizem, dizem o melhor; os que saem a todo momento da sala (mea culpa... e de todos vocês também!); os que se empolgam e os que estão ali pro que der e vier (alguns até pra o que vier e der); há os contritos a Deus e os que prefeririam chamá-Lo pra tomar uma cachacinha no bar da esquina; há os que acreditam e outros nem tanto; Há os que tomam a frente e que tomam na... (deixa pra lá).
Num lugar como esse nosso lugar, a convivência é o ganho maior. Corrijam-me se eu estiver errado: deixar o espaço da universidade como lugar das aulas e ir para o Museu Padre Palmeira nos deu outra perspectiva, não foi? Para nós, a memória (esse nosso material primordial) fica mais viva. O antigo colégio da cidade, cheio de lembranças que não são nossas, transpira os ares de tempos de uma educação diferente, de gente diferente, de histórias diferentes e ao mesmo tempo, engrossam o caldo de tudo aquilo que, no que falamos e discutimos nas mais de 30 horas/aula por vez, são a essência que nos leva a estar ali.
Por isso, e por muito mais, esse outro espaço nosso (o digital), cheio de teclados e coisa e tal (ri-mei, ri-mei!!!), é resultado de uma necessidade quase incontida de registrar se não o máximo, pelo menos o melhor dos nossos dias juntos. Daí, se eu, Pollyana, Kueyla, Rômulo e Albione (responsáveis pelos registros digitais dessas nossas peripécias intra/extra/meta/hiper/trans/e-sabe-se-lá-o-que-mais/acadêmica) nos metemos a ser os olhos da nossa turma, nós todos somos a grande arte documentada, a memória viva que estudamos.
Esses espaço é uma homenagem a todos nós, estudantes, professores, funcionários, amigos, irmãos e companheiros... Esse é o nosso grande abraço e nossa carta-manifesto. Ela é efêmera na tela do computador, eu sei, por isso digo: Estudantes do nosso curso; imprimam!!!
Marcelo Lopes