domingo, 14 de setembro de 2008

Indivisível

Em cálculos precisos
Nesse universo matemático pouco solúvel
E nada atraente,
Previ ser possível
Coexistir dois corpos num mesmo lugar.

Perdi-me em números absolutos,
Diagramas, ângulos, projeções (e tentativas)
Quase sempre ineficazes, resultados inexpressivos
Conjecturas de doer só de lembrar.
Pudera. Probabilidades e objetivos como os meus
Não têm sentido algum
Em bases de muita matéria, com ou sem vácuo,
E nem me importa a hipotenusa (quem foi mesmo essa aí?)
Ou se a aceleração é constante.

Observe: não se anima o mundo a partir dos átomos
Basta ver: os animados somos nós.
Mas perdemos o foco com facilidade.
Então a pergunta é: que medida uso para tanto?
Em auto-resposta, parei de medir.
Há de se render: dois corpos vão ser sempre dois corpos.
Quanto a isso nada se faz.
A perspectiva, no entanto, é um tipo de cálculo
De muitos matizes.
O olhar , todavia, segue o que entende
Sob os pontos de vistas que melhor de convir.

Obtenho a expressão
Simplesmente subtraindo o ponto de fuga
De algum lugar Imerso na penumbra da vigília no sono.
Traçando a linha que liga o raso ao profundo
Diametralmente, separando a diagonal das vontades
Segmentando-a todos os dias.
Alinhavo à saudade.
Elevo a raiz de sorrisos à décima potência.
Inverto o mau humor cortando os zeros.
Acomodo as linhas paralelas
Na ascendência do arco,
Traço o caminho preciso
E escolho a horizontal para os meus fins.

E no escuro (tão absoluto, que poderia ser branco)
Enxergo quando meus olhos se cerram.
Há coisas sem origem em mim,
Flutuando naquilo que é menos que espaço
E mais que lugar.
Presença.
Faz amálgama das lembranças.
Torna-se portentosamente táctil,
Muito embora ainda não me toque.
Passeia entre meus dedos,
Sorve minha pele.
Enxuga minha nuca.
Pelos pêlos faz ninho.
Aconchega-se a mim
Deitando vapor sob minhas narinas.

Move-se com os pensamentos meus
Adere-se ao meu calor,
Vai se encapsulando em mim.
Percebo meu coração.
Ele está noutro lugar.
Bate lá... Mas também aqui.
E aqui (dentro) também não bate só.
Cheira a bem, o que difere de cheiro bom.
Cheira a bem. Ao meu bem.
Bem perto.
“Perto” ao ponto de ser ela em mim.
“Bem” ao signo de paz.

Reviso tudo, sem erro, mais pelo prazer
Que pelo ímpeto racional de apenas checar.
Número exato: dois (indivisível).
Raiz: profunda.
Razão: existir junto.
Base de cálculo: aquele momento eterno,
Revigorante, intenso, semeador,
Apaziguador, sincero e vívido de
Poder dormir ao seu lado.
Resultado: a infinita beleza de ter
A mulher que amo ao meu lado,
Sobre e sob mim... Sem arestas,
Sem pontas nem agudos,...
Somente nós.
Indivisíveis.

DEPOIS

Temi dizer.
Guardei pra mim.
Contive.
Sufoquei.
Espremi.
E por mais que o tempo voasse
Que os rostos,
Os corações,
As histórias,
E palavras passassem,
Temi dizer.

Guardei pra mim.
Contive.
Sufoquei.
Espremi.
Depois...
Abri.

Fixei meu olho.
Estendi a mão.
Acordado e dormindo.
Sem data.
Além das neuras.
Profundamente presente.

E por mais que o tempo voe
Que os rostos,
Os corações,
As histórias,
E palavras passem.
Abro.

Fixo meu olho.
Estendo a mão.
Acordo e durmo.
Sem data.
Além das neuras.
Profundamente presente em mim.
Só você.

Agora não há medo
E digo como se fosse a única sentença
A fazer sentido em tudo:
Preciso de você.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Desejo


(Vitor Hugo)

"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.


Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.



Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.


Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.


Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.


Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.


Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.


Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.


Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar".

quarta-feira, 19 de março de 2008

AQUI AGORA coisa nenhuma... essa é uma realidade de todo dia.

Hoje parei pra pensar no conceito de humanitário, de humanismo,... e de como exercê-lo no sentido da dignidade, sem fugir a sua essência.


Na verdade, penso sempre nisso. Não por achar bonito, nem politicamente correto... menos ainda pra aparecer. Penso nisso por mim mesmo... seria muito diferente do que sou se não pensasse nisso. Mas o humanismo, assim como os outros "ismos", tem tb suas regras, normas de conduta.

Não preciso elencar detalhadamente nenhumas delas, pq imagino que se olharmos todos para dentro de nós mesmo e procurarmos as premissas pra uma vida de respeito e dignidade, todos os detalhes venham juntos.

Hoje no entanto, cedi ao meu policiamento próprio de evitar certos programas sencionalistas (medida preventiva essa que me resguarda o estômago não apenas dos atos mostrados, mas de quem adora lucrar em exibi-los).

A notícia do dia era a da menina torturada por uma empresária em Goiânia. Poupo-lhes novamente os detalhes, mas o teor da tortura, qualquer que seja o tipo, fere por todos os lados e os relatos ainda são mais fortes ao se ouvir pela voz de uma criança de 12 anos.

E as coisas voltam à nossa realidade: os meninos do tráfico, mortos já sem esperança; o garoto João Hélio, arrastado pela ruas; a menina Gabriela, morta com um tiro na saída do metrô... tantos casos longe, tantos casos perto.

E as coisas voltam à nossa realidade: corrupção deslavada que mina recursos necessários a nossa vida social (e nossa cara somente a observar a achar tudo normal); porões das delegacias, prisões, porões da ditadura; supressão dos direitos civis...

E as coisas voltam à nossa realidade: comprar filmes piratas ajudam ao tráfico de drogas; não exigir de quem nos deve representar é ser conivente com o que existe de tão pouco honesto; não se educar minimamente e não respeitar regras derivam em impunidade para o ladrão, para o mal motorista, para o colega de escola, para quem acha que passar a perna é só um "jeitinho pra encurtar as coisas"...


Na verdade, não sei muito bem pq dizer tudo isso. Esse texto tb não é pq mudei de idéia sobre o humanismo. Nem descobri subitamente nada que já não sentisse ou soubesse. Isso nem é um desabafo. É só uma auto-argumentação em que constato que, pelo menos hoje, o humanismo é um sentimento tão mais dificil de sustentar e encarar que um programa sensacionalista na TV.