quinta-feira, 10 de maio de 2012

Educação (audiovisual), por favor

 Por Marcelo Lopes
Tenho dois filhos pequenos (e até então você me pergunta: “e daí?”). Daí que, como todo pai – ou pelo menos deveria ser assim – me preocupo com o que eles assistem, com o que ouvem, com o tipo de informação que são bombardeados diariamente, sobretudo porque são crianças e- em tese – são mais suscetíveis a serem influenciados que nós adultos.
Em tempos de Facebook, de Big Brother, de DJ’s de ônibus (cujo repertório tem contribuído muito para o aumento do sofrimento da classe trabalhadora) e de uma TV aberta que cumpre fielmente o papel de “fábrica de doidos”, como diziam os mais velhos, fico aqui pensando nas disparidades entre o quanto conseguimos avançar quantitativamente com a tecnologia do nosso universo digital, com milhões de acessos a um simulacro de mundo ao alcance da mão, ao tempo que, na mesma medida, nos esvaziamos tão sintomaticamente em conteúdos.
Acostumados ao que nos é oferecido goela abaixo na TV, nos cinemas, nas rádios e na internet, nossos critérios seletivos estão cada dia mais rasos. Se não temos no Brasil mais nenhum movimento cinematográfico identificável como um Cinema Novo, um Cinema Marginal ou mesmo um Cinema da Retomada (que como já afirmei em outro artigo nem chegou a ser um movimento), nosso empenho em alcançar este mesmo cinema mais profissional tem já tem gerado sucessos de mercado, de público e de até de crítica. A sombra de uma não concretizada indústria cinematográfica brasileira ainda paira sobre nós, mas temos enfrentado tudo com mais eficiência.
O acesso aos filmes brasileiros (seja qual for o suporte: cinema, DVD ou mesmo infielmente pela internet) e sua aceitação por parte das grandes platéias são resultado desta nova configuração que se associa a chamada convergência tecnológica: a imbricação de meios de comunicação, linguagens e consumos, afunilados cada vez mais para suportes tecnológicos multi-tarefas, a exemplo dos aparelhos de telefonia móvel e tablets.
Se a possibilidade de produzir mais, veicular mais e experimentar mais é uma realidade, o volume de besteiras que nos empurram para consumir também aumentou exponencialmente. Fazer um vídeo caseiro e postá-lo no youtube ou outro site equivalente é muito comum a qualquer sujeito com um celular habilitado com câmera e um Movie Maker (software padrão do Windows para edição de vídeo) no computador. As novas experiências audiovisuais permitem um exercício tão benéfico para absorção da linguagem que vem trazendo muita gente com ideias legais para o cenário do curta-metragem, digital ou não.
Infelizmente, estes são minoria.
Para cada um bom realizador, a internet dispõe uma infinidade de outros geradores de virais “audiovidionéticos” que publicam e difundem desde a patinha-da-cachorra-quebrada-da-rua-vizinha-da-casa-da-sua-tia até o último cadáver da quarta-feira. E, acreditem, estes últimos têm mais audiência. Não bastasse isso, a TV agora adotou – de vez – a exibição em horário nobre das velhas videocassetadas da web ao invés de dar espaço para uma oportuna e séria produção audiovisual recente que – garanto – muito mais teria a oferecer, a um público carente de oxigenar suas mentes. Isto porque vivemos um turbilhão de possibilidades audiovisuais nunca antes alcançado, e essa oferta é marcada por uma característica visivelmente presente: o desvio da atenção do conteúdo para a forma, que gera uma banalização grotesca de inúmeros temas. Trocando em miúdos: o importante é dizer, não importa o quê, e se o que se diz chama a atenção de um número cada vez maior de pessoas, tanto melhor.
Daí que retomo o tema inicial: o raio de influência da indiscriminada produção audiovisual atual, que engloba desde a mais bem produzida novela a propagandas de cervejas, de longas-metragens blockbusters a vídeos experimentais de escolas e registros banais em aparelhos celulares, tudo isso ultrapassa e muito a esfera da faixa etária recomendada para crianças. Mas estão todos disponíveis a todas idades e, muito pior, incentivados a um consumo desenfreado.
Nosso papel como espectadores e como formadores de opinião é ir além do óbvio, exercitar a crítica, pensar e questionar onde está a regulamentação do Estado sobre tudo isto, sabendo – afirmativamente – que  este mesmo critério de regulação depende sobretudo, da nossa própria postura, da nossa auto-regulação. E não confundam isto com censura. Acredito sinceramente que não há nada de mal em debochar de um assunto qualquer, afinal o humor é a melhor arma de uma boa crítica. O problema é que nenhum assunto volátil pode, ou deve, ocupar tanta atenção por tão pouco e por tão longo tempo e alcance. Esta é a realidade da importância dada ao desimportante.
        Este é o silêncio grave que assola temas deste teor. Talvez não tão silencioso se compartilharem no Facebook... pelo menos até que outra pessoa viaje para o Canadá.

Depois do 3D, o cinema 4D?

O cinema está morto, diz o britânico Peter Greenaway. Diretor de "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante" (1989), "A Última Tempestade" (1991) e "O Livro de Cabeceira" (1995), todos disponíveis em DVD no Brasil, ele veio a São Paulo nesta semana para fazer uma palestra da série Fronteiras do Pensamento.
Greenaway acredita que o cinema narrativo (aquele que se limita a contar histórias, como se fosse um romance, muitas vezes recorrendo mais à palavra do que às imagens) já deu o que tinha para dar, e que o audiovisual precisa começar de novo, a partir do zero.
Faz tempo que Greenaway bate nessa tecla. Para ele, os filmes realizados hoje por um diretor como Martin Scorsese são essencialmente idênticos aos realizados, há quase um século, por D. W. Griffith, com atualizações de caráter tecnológico, mas pouca variação na linguagem.
Os projetos nos quais Greenaway tem se envolvido, nos últimos anos, demonstram sua inquietude em relação aos limites do cinema convencional.
Esses limites incluem, na sua análise, a falta de interatividade e a obrigação de ficar sentado em uma sala escura, olhando para a tela, por duas horas. Muito aborrecido, afirma ele.
Óperas, instalações interativas e filmes que exploram os recursos digitais para a sobreposição de imagens são algumas das tentativas recentes de Greenaway na exploração de novos territórios para o audiovisual.
O cineasta inglês não parece estar sozinho em seu julgamento do cinema narrativo convencional. O investimento da indústria norte-americana em superproduções 3D demonstra que também ela está preocupada com o possível esvaziamento do cinema como negócio tal como o conhecemos desde a década de 1930.
Preocupada em oferecer novos atrativos para tornar mais atraente a experiência cinematográfica, sobretudo para as novas gerações, a indústria começa agora a experimentar a projeção 4D. Desta vez, o ganho não aparece na tela, mas na poltrona, que se movimenta de acordo com a ação do filme, como já acontece em pequenas salas e brinquedos de parques de diversão.
A jornalista Helen O'Hara, da revista britânica "Empire", assistiu a uma exibição de "Os Vingadores" em 4D, e diz que achou a experiência estranha, embora reconheça que ela possa ser interessante para muita gente. Clique aqui para ler o texto (em inglês).
Para avançar nesse caminho, a indústria precisaria fazer um investimento grandioso para reequipar as salas de exibição. E, claro, abastecer o mercado regularmente com filmes que se prestassem a essa experiência. Ou você imagina "O Artista" em 4D, com a poltrona balançando sempre que o cachorro do protagonista sair em disparada?