sábado, 11 de fevereiro de 2006

Para Layla

Olha,

Como que fazendo do olhar

Um pincel

De pelos finos e sensíveis,

Anatomia precisa,

Instrumento afinado,

Extensão dos teus próprios dedos,

Tensos ou libertos ao desejo de ver.

O exercício do olhar dá

Ao banal o valor do símbolo.

Transforma o mendigo em

Doce vagabundo.

Dá cartola ao vilão

Mais ordinário.

Vê sabedoria nos animais

E bichos decrépitos

Nos nossos belos intelectualóides.

Somos cúmplices, minha doce amiga,

Na forma que damos aos

Traços alfabéticos da nossa escrita.

Teus olhos tão cintilantes,

Imantados,

Põem a teus pés a admiração do mundo.

Use-os.

No nosso amor pelas letras

Meu texto flui solto,

Corre feito o potro em dia de sol,

Mas também se cansa e sabe quando

E como é hora de parar

Para que a energia volte.

O teu, agarrado aos impulsos

E sentimentos mais viscerais,

Todos moldados no teu sublime jeito,

Nascem dos pequenos gestos desejados

Que teu olhar busca ver

Nos que por ti passam

Nos que em ti ficam.

No tudo que te cerca.

Sobre o que escrevemos

Temos um mundo e alguns anexos

A dizer, a contar do que percebemos.

E se te deixo essas palavras,

Olhos cintilantes,

Não são por conselhos,

É minha forma de dizer

Do carinho gratuito por ti,

E de dizer-te que as palavras

Estão por aí, soltas

Correndo ao sol

Sem tempo

Só é preciso agarrá-las...

Estenda as mãos.

Veja onde elas estão.

Olhe.