domingo, 13 de janeiro de 2013

A legião da Legião Urbana

Principais discos da banda que revolucionou o rock brasileiro
Por Marcelo Lopes

Acho que virou um tipo de ritual. Da mesma forma como também não se explica de forma muito racional a devoção em torno da figura do cantor Raul Seixas (fenômeno que não faço qualquer juízo de valor, porque eu também acho o cara muito bom), a Legião Urbana é um fenômeno retroalimentado geração a geração, tornado a trilha sonora de uma geração inteira. Seu som resiste bravamente muitos anos depois a morte seu líder e vocalista, o cantor Renato Russo. Hoje, entre outros tantos legados, a Legião Urbana é repertório quase que obrigatório em todo final de festa que abriga algum vilão (e música que preste, diga-se de passagem).

Assim como Agenor de Miranda Araújo Neto (o Cazuza), Renato Manfredini Junior, o Renato Russo foi uma dessas figuras que não cabiam em si: polêmico, poeta e artista, por isso mesmo, incoerente e puto da vida, como ele mesmo afirmava. Segundo D. Lúcia Rocha, mãe de um dos mais inquietos artistas brasileiros, o cineasta Glauber Rocha – que também morreu cedo demais - pessoas assim são com uma vela que queima dos dois lados, consomem-se na vida como se o tempo fosse sempre muito pouco e o corpo um receptáculo combustível, pirotécnico, alegórico e manifesto.

Renato Russo: polêmico, poeta e puto da vida
A Legião foi uma banda de rock, surgida em Brasília entre 1982 e 1996. Ao todo, lançaram dezesseis álbuns, somando mais de 20 milhões de discos vendidos, somente na época em que atuaram. Ainda hoje, é o terceiro grupo musical da gravadora EMI que mais vende discos de catálogo em todo o mundo, com uma média de 250 mil cópias por ano. O fim do grupo foi marcado pelo falecimento de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996. A banda é uma das recordistas de vendas de discos no Brasil com dois Discos de Diamante pelos álbuns Que País É Este, de 1987 e Acústico MTV, de 1999. A banda faz parte do chamado quarteto sagrado do rock brasileiro, juntamente com o Barão Vermelho, Titãs e Paralamas do Sucesso. Esta úlitma banda, sob a voz de Herbert Vianna, foi uma das principais responsáveis pelo reconhecimento do trabalho da Legião Urbana.

Legião e Paralamas: histórias interligadas
A Legião Urbana foi, muito especialmente, a minha trilha sonora adolescente. Friso o termo “adolescente” em contraponto e alerta total ao que se ouve hoje em dia, sem querer entrar diretamente na questão ou mesmo querer adotar tom conservador, até porque, mesmo agora, o rock ainda está longe de ser um som conservador. Músicas como “Geração Coca-Cola”, “Será”, “Pais e Filhos”, “Eduardo e Mônica” e "Faroeste Caboclo” (que deve estrear nos cinemas em 2013), além das letras fortes, faziam sucesso quase sem refrão. Sintonizadas com seu tempo, eram repletas de imagens e histórias que se tornaram empáticas a um sem-número de jovens, que se viam nas músicas da banda. Sua obra legou a muitos fãs o interesse pela literatura, pela política e pela arte de uma forma ampla, ajudando a formar muitos bons educadores, médicos, engenheiros, artistas e profissionais que atuam dentro e fora área da cultura, e que têm em comum, sobretudo, um olhar humanístico sobre tudo o que fazem. Para a cultura popular, a herança de Renato, Dado Vila Lobos e Marcelo Bonfá ainda rende dividendos culturais ajudando a apurar os ouvidos de muitos novos fãs, influenciando bandas, que como eles, correram à margem da grande mídia, buscando originalidade e verdade no que propunham.

Deste meu legado para a arte, estimulado também pela Legião, registro – com louvor e algumas adaptações pertinentes – um trecho de Carlos Drummond de Andrade: Eu não devia te dizer/ mas essa [tarde de domingo] / mas essa [cerveja]/ botam a gente comovido como o diabo.

* Para meus queridos e sempre amigos Helisson e Claudinha.

4 comentários:

  1. Bom saber que de uma conversa descontraída entre você, Helisson e eu surgiu esse texto maravilhoso! Legião causa isso!!! Urbana Legio Omnia Vincit

    Claudinha

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  2. O Oscar 2014 vai ser uma disputa danada!
    Tem Eduardo e Mõnica, o Filme do Calypso com a Deborah Secco no papel de Joelma e a animação do Ronaldinho Gaúcho kkkk

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    1. Kkkkkk... Oscar nunca foi uma referência boa pra qualquer outro filme que não seja ou não tenha produção americana, Gil. Mas depois que deixaram inscrever Cinderela Baiana (com Carla Perez), minhas expectativas pra possíveis representantes piorou muito, hehehe.

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  3. Cara, Deus lhe abençoou com vários dons. Fico fascinado com a forma espetacular com que escreve e transmite essas emoções sem perder a clareza e a coerência. Parabéns pelo texto e obrigado pelas recordações maravilhosas.

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