Por Marcelo
Lopes
Quando me
falam sobre adaptações de quaisquer obras para o cinema sempre me lembro dos
bodes. Dois bodes no campo comiam um filme cinematográfico. A certa altura um
diz para o outro: “o que você acha desse aqui?” – pensativamente o outro
responde, “prefiro o livro”.
Sobre isso, há
sempre que reclame sobre um filme A ou B e ainda há quem diga que nenhum filme
consegue superar a história original. Na verdade, tirados de livros ou de outras
fontes de inspiração, as adaptações têm sim seu lugar. Basta olhar para os
maiores lançamentos do cinema norte-americano nos últimos anos e pode-se
observar que um filão muito bem explorado tem sido os filmes baseados em
personagens dos quadrinhos. A lista é longa: somente em 2011 nos vimos às voltas
com o Deus do Trovão (Thor, de Kenneth Branagh), a nova saga dos mutantes (X-Men
– Primeira Classe, de Matthew Vaughn), o bárbaro da Siméria
(Conan, de Marcus Nispel), o grande escoteiro dos EUA (Capitão América, de Joe
Johnston), o cavaleiro esmeralda (Lanterna Verde, de Martin Campbell), além de um
bando de duendezinhos azuis, alguns robôs automotivos e um ursinho laranja que
saíram dos quadrinhos e viram sucesso de TV nas década de 80 e 90: Os Smurfs, (Colin
Brady), Transformers 3 (Michael Bay) e Ursinho Pooh (Stephen J. Anderson/ Don
Hall). Tudo isso em um só ano. Em 2012, os destaques ficam a cargo de Homens de Preto 3, Os Vingadores e da versão teen do Homem Aranha.
Claro que nem tudo vale o que vende. A primeira regra de uma
adaptação é respeitar a linguagem: cinema não é literatura nem é história em
quadrinhos e vice-versa. Cada um tem seu ritmo, sua característica, seu tempo
narrativo, seus detalhes relevantes. Não se pode esperar que uma obra adaptada
seja tão boa ou melhor que o original, até mesmo porque a matéria-prima de
ambos tem desdobramentos diferentes. Na literatura a imaginação segue a mão e o
suor do seu autor, com os objetivos de quem escreve. No cinema, as variáveis
são muito maiores e os interesses infinitamente diversos; do agente de
determinado superstar ao produtor de
uma grande companhia, do roteirista habilidoso (ou não) ao chefe de marketing
que quer vender os bonequinhos e camisetas do filme.
O que de fato nos importa de fato como espectadores é o rol
de bons filmes e de outras tantas barbaridades que nos são apresentadas nos
últimos anos. E como estamos falando de Quadrinhos, aí vai a minha lista dos
piores e melhores filmes.
PIORES
- O JUSTICEIRO
(1989) – Um desgosto. O personagem, um dos mais ricos anti-heróis psicóticos
dos HQ’s, virou piada e se tornou irreconhecível na pele do ator Dolf Lundgren
(na época, ainda famoso pela sua atuação em Rocky IV). Canastrão e mal produzido, o filme não
convence com os personagens, com o ator e sequer faz jus a história original. Não vou nem falar do que o loirão fez com He-Man (Masters of the Universe).
- O FANTASMA
(1996). Depois de amargar um longo tempo sendo um dos amiguinhos sem nome de
Beef Tennen, na trilogia “De Volta para o Futuro” e fazer algum sucesso como
vilão em Titanic, Billy Zane emprestou o rosto ao velho herói-título do filme,
assassinando a memória de muitos leitores. O filme, de bilheteria muito ruim,
não emplacou nem aos mais generosos que nem conheciam o personagem da época dos
quadrinhos. Billy Zane, depois disso, não consegue mais nem o antigo papel na
gang do Beef.
- DEMOLIDOR – O Homemsem Medo (2003). Nem cinema nem HQ, a linguagem do filme é um híbrido
estranho que não consegue se aproximar da aura sombria do herói-cego que faz
justiça com as próprias mãos, nem consegue emplacar boas interpretações dos
atores (que ironicamente são bons, como Bem Affleck, Jennifer Garner e Colin
Farrell). Miscelânea de sei-lá-o-quê, o filme tem cenas de luta que perdem para
Jaspion em convencimento e uma história sem consistência.
- HULK (2003/2008)
– Não sei bem onde fica a referência que os roteiristas para adaptarem os HQ’s,
mas o Hulk, protagonizado por Eric Bana, consegue misturar tanta coisa que a
história se perde no meio dos seus efeitos e torna o Dr. Bruce Banner filho de
um dos seus piores inimigos nos quadrinhos (coisa que nunca aconteceu nas
histórias). A continuação peca menos na história original, mas tem pérolas,
como brasileiros com sotaque espanhol e coisas do gênero. Melhor deixar pra
lá... É tudo muito incrível.
- BATMAN E ROBIN (1997)
– depois de uma brusca queda de qualidade nas sequências dos filmes de Batman
(iniciadas com ótimo Batman, de Tim Burton), essa pérola é o auge de muita
perda de tom. Além de atuações horripilantes, personagens sem um mínimo de
conteúdo e da gratuidade das ações dos personagens, a história do homem-morcego
se assemelha mais ao seriado Batman dos anos 60 (com o barrigudo Addam West)
que com o clima mais sombrio que consagrou o herói nos quadrinhos.
MELHORES
- HOMENS DE PRETO
(1997/2002/2012) – Para quem não sabe, as histórias impagáveis dos homens de terno
preto saíram dos quadrinhos para cair no gosto popular com duas ótimas
produções (indo para a sua terceira em 2012). A produção muito bem bolada, não
cai no uso dos recursos somente para encobrir um roteiro fraco; divertido, inteligente e protagonizado por
dois atores de primeira linha, o filme promete também na sua próxima sequência.
- BATMAN Begins (2005/2008)
– o Diretor Christopher Nolan redime a saga do cavaleiro das trevas com duas
ótimas adaptações, trazendo para a tela do cinema um filme de ação intrincado,
que faz passar longe a noção de que as histórias dos quadrinhos não podem ter
peso dramático. Em ambos (não recomendadas para crianças, diga-se), a atmosfera
densa e a virulências dos personagens valem cada minuto sentado em frente a
tela. Nota dez (in memorian) para Heath Legder como o melhor Coringa do cinema
(que me desculpe Jack Nicholson).
- 300 (2007) -
dirigido por Zack Snyder, baseado na obra de Frank Miller, “Os 300 de Esparta”,
o filme é a reconstrução do HQ em cinema, nos termos de uma transposição de
linguagem inteligente e astuta. Usando de filtros que fazem lembrar as pinturas
do artista Frank Miller, filtros de luz e muito Chroma Key, a história da resistência do Rei Leônidas e suas três
centenas de soldados para manter os incontáveis guerreiros persas fora do
território grego, resgata na raiz o sentido épico da história de Miller.
- WACHTMEN (2009)
– Baseada na Graphic Novel homônima
de Alan Moore e Dave Gibbons, o filme foi um desafio de duas décadas para a
obra dos quadrinhos mundialmente premiada: nenhum conseguia encarar Rorschach e
os outros anti-heróis da história sem dar a cara à tapa aos milhões de fãs da
história, espalhados mundo afora. Tudo isso porque, além de complexa, repleta
de intertextos e histórias paralelas, a narrativa mantinha uma unidade
dramática e estética marcante; o risco de fazer perder o que tornava a história
uma obra prima poderia se perder em dois tempos. Outro ponto para Zack Snyder,
que aceitou o desafio e o resultado foi impressionante. Para quem não viu,
recomendo ver os dois, o HQ e o filme.
- Sin City - A Cidade do Pecado (2005)
– dirigido por nada menos que Frank Miller (autor da obra em quadrinhos), Quentin Tarantino,
Robert Rodriguez, o filme mantém traços integrais da Graphic Novel: o contraste de preto e branco e a incursão de
algumas cores adicionais como o vermelho e amarelo; a narrativa suja dos pulp fiction (livro de bolso com
histórias policiais, repletas de sexo e anti-heróis ao estilo noir). Ágil, frenético, plasticamente
impressionante e impressionável, o filme mantém a estética dos quadrinhos como
um homenagem a esta arte sem esquecer que está fazendo cinema.
A lista tende
sempre a ficar imensa, se olharmos o que já foi feito e o que já existe de
promessa pela frente. Torçamos pelo menos para que vençam os melhores.
Esse eu já conhecia, concordo com a análise.
ResponderExcluirAbraço, Tchellos Man