Por Marcelo Lopes
Ano
passado - num desses pequenos momentos inesperados e pitorescos que ficam guardados
na lembrança -, logo após sua apresentação pública na Praça Barão do Rio
Branco, passei cerca de uma hora conversando com o cantor e compositor mineiro DércioMarques. Solícito (não o conhecia pessoalmente), conversamos como se
estivéssemos continuando um papo da semana anterior.
Dono
de um talento ímpar, de uma sensibilidade à flor da pele e de um cativante jeito
simples, Dércio falou de como era bom ver um público “sadio” lotar os espaços
públicos para ouvir um pedaço da nossa própria identidade popular, coisas que
só mesmo o homem brasileiro tem e que em nenhum outro lugar do mundo se manifestam
desta forma. Lembramos de pessoas que conhecíamos em comum (inclusive meu saudoso
e querido amigo Jorge Melquisedeque). Falamos de amenidades e de coisas
relevantes, esticamos o papo além do cumprimento normal de alguém que viu sua
apresentação e achou tudo muito bom. Saí dali ainda mais fã do artista.
Num
momento em que a dinâmica cultural de Vitória da Conquista permite que o
trânsito de artistas de perfil regionais se exerça além dos grupos auto-referenciados
ou em espaços “intelectualizados”, partilhando com um público cada vez maior o
talento de nomes como Dercio Marques no mesmo patamar que qualquer outro espetáculo
musical “comercial”, ficamos órfãos da sua presença num bom momento da cultura
local.
Na
madrugada desta quarta-feira, 27 de junho, Dércio Marques saiu de cena devido a
complicações de saúde, falecendo na cidade de Salvador.
Ficou
o legado de um artista que marcou seu talento ao lado de outros grandes como Elomar
Figueira, Xangai, João do Vale, Paulinho Pedra Azul, Luis Di França e Pereira
da Viola. Ficou também a obra de um defensor da natureza, da cultura popular
do Brasil e do bioma cerrado de sua infância. Ficou ainda, para mim – mais do
que antes – a lembrança boa de um artista tão simples, sofisticado e profundo
como as músicas que cantou.
Fica aqui meu abraço.
via e-mail da produtora de Elomar Figueira Melo, Rossane Nascimento:
ResponderExcluirELOMAR FALA DA PERDA DO MENESTREL DERCIO MARQUES
"O mundo perdeu o último-grande/Menestrel porque a Europa não tem, Asia, África, Oceania, nem em todo o resto do continente americano, um que se iguale a ele. A não ser que exista sem que saibamos ..."
Elomar, 27.06.2012, 11:26h.