quarta-feira, 27 de junho de 2012

Adeus a Dércio Marques

Por Marcelo Lopes

Ano passado - num desses pequenos momentos inesperados e pitorescos que ficam guardados na lembrança -, logo após sua apresentação pública na Praça Barão do Rio Branco, passei cerca de uma hora conversando com o cantor e compositor mineiro DércioMarques. Solícito (não o conhecia pessoalmente), conversamos como se estivéssemos continuando um papo da semana anterior.

Dono de um talento ímpar, de uma sensibilidade à flor da pele e de um cativante jeito simples, Dércio falou de como era bom ver um público “sadio” lotar os espaços públicos para ouvir um pedaço da nossa própria identidade popular, coisas que só mesmo o homem brasileiro tem e que em nenhum outro lugar do mundo se manifestam desta forma. Lembramos de pessoas que conhecíamos em comum (inclusive meu saudoso e querido amigo Jorge Melquisedeque). Falamos de amenidades e de coisas relevantes, esticamos o papo além do cumprimento normal de alguém que viu sua apresentação e achou tudo muito bom. Saí dali ainda mais fã do artista.

Num momento em que a dinâmica cultural de Vitória da Conquista permite que o trânsito de artistas de perfil regionais se exerça além dos grupos auto-referenciados ou em espaços “intelectualizados”, partilhando com um público cada vez maior o talento de nomes como Dercio Marques no mesmo patamar que qualquer outro espetáculo musical “comercial”, ficamos órfãos da sua presença num bom momento da cultura local.

Na madrugada desta quarta-feira, 27 de junho, Dércio Marques saiu de cena devido a complicações de saúde, falecendo na cidade de Salvador.

Ficou o legado de um artista que marcou seu talento ao lado de outros grandes como Elomar Figueira, Xangai, João do Vale, Paulinho Pedra Azul, Luis Di França e Pereira da Viola. Ficou também a obra de um defensor da natureza, da cultura popular do Brasil  e do bioma cerrado de sua infância. Ficou ainda, para mim – mais do que antes – a lembrança boa de um artista tão simples, sofisticado e profundo como as músicas que cantou.

Fica aqui meu abraço.

Um comentário:

  1. via e-mail da produtora de Elomar Figueira Melo, Rossane Nascimento:

    ELOMAR FALA DA PERDA DO MENESTREL DERCIO MARQUES

    "O mundo perdeu o último-grande/Menestrel porque a Europa não tem, Asia, África, Oceania, nem em todo o resto do continente americano, um que se iguale a ele. A não ser que exista sem que saibamos ..."

    Elomar, 27.06.2012, 11:26h.

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