quinta-feira, 4 de abril de 2013

Alisson Menezes no Maracangalha

Release Catrupia Produções

O cantor e compositor Alisson Menezes se apresenta no Bar Maracangalha durante os dias de sábado do mês de abril. Tendo lançado em 2004 o CD “Quirelas”, em 2010 lança o álbum “Alisson Menezes e a Catrupia”, com o propósito de divulgar e difundir a cultura popular. Em 2013 lançou o DVD documentário “Matrizes, Alisson Menezes e outros tantos seus”, onde o público tem a oportunidadede conhecer um pouco mais do universo criativo do artista. Com previsão de lançamento para Junho de 2013, o CD Porão da Casa do Conto, é o mais novo trabalho de Alisson Menezes, que conta com a participação de artistas como João Omar (BA), Maviael Melo (PE), Estela Ceregatti (MT), dentre outros.

Com um estilo difícil de codificar, os shows de Alisson são sempre marcados pela variedade de ritmos utilizados em suas canções. Impregnado de uma brasilidade que nos leva ao reconhecimento imediato de nossa identidade, o show nos propicia uma viagem musical por algumas regiões do Brasil.

O artista, que é de Vitória da Conquista-Ba, tem se destacado no cenário da música independente brasileira, se apresentando em grandes eventos, mostrando a sua verdade musical em eventos  como “Conexão Vivo”, nos estados da Bahia e Minas Gerais, V Mostra da Canção Independente Brasileira do Banco do Nordeste nos Estados do Ceará e Paraíba, Circulação de shows na Bahia com patrocínio da Fundação Cultural do estado da Bahia, show nos SESC de Cuiabá e Vitória da Conquista e circulação de show no Festival Intercenas Musicais, em algumas cidades da Bahia, com o patrocínio da Secretaria de Cultura da Bahia e VIVO.



As apresentações contarão com a participação de artistas locais, possibilitando ao público presente uma mostra do que tem sido produzido na região sudoeste da Bahia.


Maracangalha
O Bar Maracangalha, tem se firmado no cenário conquistense como referência da culinária regional, se tornando ainda um ponto de encontro da classe artística e intelectual, que tem utilizado o espaço para confraternizações e eventos.
Com um histórico de funcionamento de aproximadamente 10 anos no Campus da UESB em Vitória da Conquista, o restaurante agrega um público diversificado e fiel, se destacando pela qualidade no atendimento e no fomento de ações culturais.

Agenda dos shows no Maracangalha
06/04 - Alisson Menezes e Walter Lajes
13/04 - Alisson Menezes e Alan Rocha
20/04 - Alisson Menezes e Gutemba
27/04 - Alisson Menezes e Janio Arapiranga

A divulgação será feita através das redes sociais, blogs, sites, rádios parceira: UESB FM e 96 FM e banner que será fixado no local durante todo o mês com as logomarcas dos apoiadores e realizadores.

Conquista Arteira
O projeto, uma iniciativa da Catrupia Produções e do Instituto Mandacaru, trata de uma série de ações de formação e vivência cultural, voltadas prioritariamente para produtore, artistas e agentes produtores da cultura em Vitória da Conquista e região, tendo a série de shows de Alisson Menezes como a primeira destas atividade. 

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Alisson Menezes, Gutemba e Paulo Gabiru, no Projeto Conversa de Compadre



quinta-feira, 28 de março de 2013

A Beleza que pagamos

Por Marcelo Lopes


Narciso (1594-1596), por Caravaggio
Eco e Narciso são duas figuras míticas que, como arquétipos, desenham muito bem histórias contadas e recontadas através dos tempos. A primeira personagem era uma bela ninfa, apaixonada pelo segundo, um jovem de beleza incomparável, cuja consciência da sua graça o levava a se achar semelhante a um deus. Eco, sem ter seu amor correspondido, definhou melancolicamente, o que fez a deusa Némesis lançar sobre Narciso uma lição à altura da sua frivolidade: o jovem apaixonou-se por seu próprio reflexo na água na lagoa de Eco, onde se deitou num banco, admirando seu próprio reflexo, embelezando-se, enquanto consumia-se pouco a pouco. Mais tarde, ao procurarem seu corpo, encontraram apenas uma flor, que hoje leva o seu nome.

Venus Anadyomene, óleo por Tiziano Vecelli
Mitos que tem por tema a beleza povoam a história humana e mudam de tempos em tempos, de acordo as transformações do olhar do homem sobre o mundo que o cerca. As beldades da Renascença, por exemplo, tinham por característica o reconhecimento de suas celulites e pneuzinhos à mostra, fartura em carnes e muito lugar para “dar uma apertadinha”, revelando mais do que a voluptuosidade do seu corpo: num tempo em que comer bem e bastante era um privilégio ainda maior que hoje, demonstravam representar o ideal da beleza ao mostrarem-se bem nutridas. Um padrão de beleza estendido por séculos afirmando categoricamente que não haveria coisa mais linda neste mundo que uma gordinha nua.

Se as pinturas e esculturas clássicas perpetuavam padrões corporais ideais, referências máximas a serem seguidas na busca da beleza para homens, e muito especialmente, para mulheres, o acesso popularizado a outras e mais diversas imagens com o advento do cinema e da TV, criou mitos inalcançáveis de outra ordem de beleza, cercados de narrativas heroicas e sedução à flor da pele. Assim, de Rodolfo Valentino a Errol Flynn e Clark Gable, de Rock Hudson a Tom Cruise, passando por Greta Garbo, Rita Hayworth, Marilyn Monroe, Sharon Stone a Charlize Theron e Megan Fox, todos os mitos do cinema carregam para fora das telas doses cavalares de uma beleza que vai além dos próprios atores que os encarnam. Estes, contando do início do século para cá, tiveram seu padrão mudado radicalmente: os homens se tornando mais musculosos; as mulheres emagrecendo até não sobrar mais onde pegar.

A era do Photoshop: ideal de beleza além da beleza
O mundo que antes sustentava a beleza como um ideal, um status e um privilégio de poucos - manipulados no presente e na posteridade -, passou a transformá-lo numa construção que difunde um ideal do belo como algo vendável, comercializável, atingível na medida do bolso de cada um. Esta falsa democracia acirra o desejo humano na busca de um padrão cada dia mais inalcançável. Se anteriormente as revistas da moda e os anúncios já mascaravam com retoques à mão as fotos das modelos, o atual grau de refinamento da manipulação digital das imagens gera reconstruções corporais completamente irreais de tão perfeitas. Para esse novo ideal estético, que corrige as imperfeições, as curvas do corpo, vincos da pele, texturas e rugas, são anulados não apenas o que nos torna humanos, mas também aquilo que nos marca a história do corpo através do tempo. Temos, neste novo modelo, um padrão de tão alto nível de perfeição que não basta recorrer à saúde do corpo, é preciso ir além e nos tornarmos, pelo poder da maquiagem digital e da ponta de um bisturi, a reconstrução modelada de outro tipo de ser humano, edificado para atender não as exigências da saúde, mas aos apelos infinitos do desejo e do consumo.

Desta forma, assim como Narciso, um número cada vez maior de pessoas definha frente a um reflexo cuja imagem exige cada dia uma meta de beleza infinita. Exaltam a frivolidade e a superficialidade, que vem em anexo a um consumo desenfreado, nos estimulando em camadas e camadas de discursos midiáticos. Os reality shows, as modelos bombadas que exibem seus corpos nas TV’s e revistas, e as propagandas - que, sob quilos de maquiagens, cremes e imersões, prometendo o impossível - são reflexo e causa desta busca frenética. Cada dia mais os jovens querem permanecer mais jovens e os mais velhos buscam esticar sua juventude ad infinitum, numa luta desigual contra o tempo e o corpo. Têm, todos eles, flutuando sobre o ombro esquerdo, um capetinha miniatura que sussurra ao seu ouvido que é possível vencer essa peleja, enquanto, no outro ombro, um anjinho bonitinho lhes diz que nunca na vida você pode ficar tão lindo quanto ele.

Casos de inconsequências geradas por essa busca incessante não são poucos. Pipocam pela mídia, histórias em que a odisseia pelo corpo perfeito trazem, ao invés do esperado, deformações provocadas pelo exercício corporal mal feito, pelas cirurgias plásticas nos rostos e no corpo, entortando tudo, inclusive a cabeça de muita gente. Recentemente, em Vitória da Conquista, quatro jovens deram entrada em hospitais da cidade após terem utilizado anabolizantes – usados comumente em cavalos – para turbinarem sua musculatura, compartilhada na mesma seringa. Dois ainda correm risco de morrer e podem, um deles, ter os membros superiores amputados, e o outro, as pernas. Não é incomum, no cotidiano das academias, o uso de recursos extremos como estes. Na verdade, para atender a uma moda tão irreal, o absurdo se incorpora aos meios para alcançá-la.

Pensar o ideal estético do nosso tempo e tudo o que o implica não é possível sem compreender como somos tão fartamente bombardeados na nossa parcela narcisista. Bajulados, aliciados nas ruas, em casa, no trabalho, somos atalhados pela mídia naquilo onde mais somos vulneráveis, o nosso desejo. Vendem-nos o impossível em frascos, em carros, em móveis e imóveis, em estilos de vida e nos sentimos, mesmo sem ter como, parte disto. Entregues, nos deixamos levar. Queremos nos achar mais bonitos do que somos, e mesmo que o sejamos, ignoramos os riscos de querer ter (e não ser) mais. Por isso, tendemos, nessa lógica, a definhar também, sem nunca alcançar o reflexo. E, após tudo isso, não é possível que não sobre nem uma flor com nosso nome.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Teatro e Circo em pauta permanente

Por Marcelo Lopes

As artes cênicas têm no dia 27 de Março uma data importante. São comemoradas nesta data o Dia Internacional do Teatro e do Circo.

Responsáveis por criações das mais expressivas às mais tácitas, o teatro e o circo têm origens nas representações feitas pelos homens de tempos primitivos, quando imitavam animais e outros seres, transmitiam saberes e narravam de forma alegórica e sumamente corporal histórias de vida e arte. Homenageando deuses, criando e recriando personagens simbólicos, arquetípicos, ambas as artes se estenderam ao longo da história humana de forma popular e perene, e, guardando suas especificidades, existem ainda hoje por terem, sobretudo, a propriedade e a necessidade fundamental de existir para serem manifestações populares.

Por todo o mundo, a data de hoje encontra homenagens. Em Vitória da Conquista, o Projeto “Cultura em Movimento”, iniciativa da coordenação do Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, propõe um novo um espaço de discussão sobre essas linguagens apresentadas nos meses temáticos do calendário SescultBA. A primeira edição acontecerá marcadamente neste 27 de março, às 18h., na Sala Polivalente do CCCJL, em referência ao Dia Internacional do Teatro e do Circo.

Faça a sua inscrição e participe efetivamente. 

A iniciativa é também uma realização da Diretoria de Espaços Culturais/ SUDECULT/ SECULT.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Ecad e suas fábulas

Por Marcelo Lopes

Gosto de contar histórias. Principalmente porque qualquer narrativa, da Ilíada a pequenos contos infantis como Chapeuzinho Vermelho, são simbolicamente ilustrativas de recortes da realidade e trazem uma carga forte de elementos que nos contam o que tivemos no passado, o que temos que lidar ainda hoje e, sobretudo, nos dão a exata medida dos nossos desafios e do tamanho do lobo que temos que matar para viver decentemente hoje em dia.

Desta forma, eis a nau.

Vinda fugida – digo, estrategicamente transferida - de Portugal por conta de um Napoleão em pele de lobo à suas costas, a Família Real Portuguesa desembarcou no Brasil em 1808. Primeiro em Salvador e logo em seguida no Rio de Janeiro para ficar. Quatorze navios trouxeram, além da família real, centenas de funcionários, criados, assessores, pessoas ligadas à corte portuguesa e logo se instalaram em casas de gente abastadas que foram - como diria – compulsoriamente convidadas a sair de suas residências para ceder lugar às visitas. Dentre outros aspectos que definiram a cara do nosso país, um dos maiores legados desse período é a criação de estruturas administrativas, até então inéditas no Brasil, que permitiram a D. João e sua corte gerir tudo por aqui, e Portugal por tabela enquanto Seu Lobo não fosse embora.

Pois bem, assim foram nomeados em terra brasilis uma infinidade de pessoas que manteriam a máquina do estado funcionando. Por não terem salário fixo, esses funcionários do interesse público recebiam comissões por serviços diversos em nome do Rei, parte destinada ao quinhão real, parte para seu próprio recebimento pecuniário. Alguém que cuidasse da alfândega, por exemplo, estabelecia valores que achava “justo” pelas mercadorias que circulavam nos portos, taxava-os, recebia os dividendos e repassava ao Estado, retirando antes o seu percentual. Logicamente, não havia uma eficiente fiscalização. Na verdade, era tudo mediado na base da burocracia sem regulamentação precisa, nas indicações de pessoas tecnicamente de “confiança”. Esta prática perdurou por muito tempo, enraizada na matriz de relações de favor e contrafavor de uma estrutura já cheia de problemas até que houvesse uma mudança legal que, posteriormente, estabeleceria um parâmetro de salários para os funcionários públicos. No entanto, este modelo de pagamentos percentuais “flexíveis” e de critérios muito pessoas (uma prática bem antiga na história humana, diga-se) já havia encontrado lugar cativo por aqui e continuou a ser realizada de forma menos visível. Oficialmente, estes “vencimentos” eram chamados de propina.

O Brasil de D. João ficou para trás e hoje a máquina do estado é outra (por favor, peço que não riam). Mas algumas coisas ainda são digna de nota. Ontem (21/03/13), li a seguinte notícia: “O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) condenou o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) e as seis associações representativas de direitos autorais que o compõem por formação de cartel ao fixar preços para atividades do mercado musical. Além disso, condenou o Ecad por fechamento de mercado. O órgão aplicou multa total de R$ 38,2 milhões, determinou que as práticas abusivas à concorrência sejam suspensas e recomendou ao Ministério da Cultura que passe a regular essa área”.

Para quem não sabe, o Ecad é o órgão brasileiro responsável pela a arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos seus autores, uma instituição privada criada pela Lei nº5.988/73 e mantida pela Lei Federal nº 9.610/98. Na prática, ela define por seus próprios critérios o que e quanto deve ser cobrado pela execução de músicas em qualquer espaço ou suporte, repassando-os – em tese – a quem de direito. Normalmente, o ritual que impõe sua presença é bem padronizado, com poucas variações: um sujeito chega com autoridade de um representante direto do Papa perguntando sobre o evento, qual a programação e, quando não encontra, se existe algum folheto de divulgação. Em seguida apresenta-se como fiscal do Ecad, mostrando uma carteira (que em 90% dos casos ninguém nunca viu na vida para saber se é verdadeira ou não) e emite uma ordem de cobrança. Afora a parte da cobrança ao final, o ritual pode mudar um pouco a ordem, mas o susto é sempre o mesmo.

Esse estranho e obscuro órgão é envolto sempre em questionamentos por parte do setor cultural e econômica, principalmente pelos próprios autores que dizem representar. Casos esdrúxulos como a cobrança de taxas por execução de músicas em festas de casamentos, ou em Tv’s ligadas em bares, são exemplos de abusos atribuídos a entidade. Em agosto de 2011 o Escritório sofreu uma CPI pelo senado para investigação da suspeita de fraudes nos pagamentos de direitos autorais. No ano seguinte se envolveu em uma nova polêmica ao tentar cobrar de blogs por vídeos incorporados do Youtube, depois direcionada a empresa Google, dona do site. Devido a repercussão negativa de proporções internacionais e ao tamanho da “vítima” o Ecad voltou atrás.

Na moral da nossa historinha, o que não é possível aceitar é que um órgão privado, juntamente com suas entidades associadas, detenha, sem nenhum critério regulatório ou um mínimo de transparência, o monopólio de toda arrecadação e distribuição dos direitos autorais no Brasil. Na contramão de tudo o que vem sendo construído no sentido da liberação de produções criativas – a exemplo do selo Creative Commons, que atribui autoria a obras diversas, mas possibilita outro modelo relação/consumo com público – a entidade é responsável por manter uma rigidez de mercado com uma postura que, em última instância, circula sempre sob pretextos esfumaçados. Arcaico, o Ecad não difere em nada dos antigos funcionários da corte, com agravantes ainda maiores: é uma entidade com representação em todo o país, criada e avalizada por uma lei federal, e que – afora o que já se apura para além da legalidade – inspira desconfiança pela sua própria existência num modelo com ampla margem à corupção. Não há um marco regulatório sequer que lhe seja atribuído de forma clara, e o Estado, por sua ausência, é conivente com isto. Entre a “propina” de D. João e a propina que conhecemos tão bem, quais são os termos que nos garantem que a arrecadação do Ecad não são frutos de critérios e interesses sumamente pessoais?

Se quem canta os males espanta, nem sempre isso chega a ser verdade. Fica aí uma reflexão que deve seguir para um estágio posterior ao da simples discussão; vale exigir, denunciar e reivindicar um modelo mais justo para quem produz arte no Brasil. Ou então corremos o risco, nessa lógica invertida, de sermos compulsoriamente convidados a sair do nosso lugar de produtores da cultura para ceder espaço aos novos donos das nossas próprias ideias.

* Depoimento interesante. Confira: