sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sexo e ideias criativas

Por Marcelo Lopes


Uma vez perguntaram ao cineasta Woody Allen se ele achava que sexo era sacanagem. “Só se for bem feito”, ele respondeu. Este texto não é necessariamente sobre sacanagem, embora alguém possa discordar.


Mais do que apenas circunscrita nos termos da biologia, o sexo é compartilhado socialmente pela mediação cultural que dita o que deve ou não deve ser aceito, cria seus tabus e o transforma no termômetro daquilo que chamamos de proibido. Pecar, por exemplo,  em certo sentido – justamente por ser pecado - é mais gostoso do que pesado na alma. Ao longo da história humana, o sexo desfilou com maior ou menor naturalidade pela arte, pela ciência, pela vida a dois, a três ou grupal. Na Grécia antiga, a homossexualidade era tratada como algo comum, permitido e até institucionalizado. Na tradição de alguns povos africanos a sensibilidade do corpo feminino é reconhecidamente um canal com os deuses, o que fazia com que certos homens “mudassem de sexo”, tornando-se virtual e conjugalmente mulheres e sacerdotizas. Até poucas décadas atrás, na nossa terrinha brasilis, era comum as famílias darem suas filhas ao casamento e quanto menos idade tivessem melhor para que gerassem mais filhos ao longo da vida fértil. Isto significava dizer que eram estimulados socialmente os casamentos entre homens adultos e meninas de doze ou treze anos, até menos. Muitas histórias de avós e bizavós vêm à tona se pararmos bem para pensar e olharmos nossos troncos familiares.

O Último Tango em Paris, de Bertolucci
Se o sexo ainda é tabu, a forma como lidamos com ele muda a todo o momento. Na arte principalmente. Por ser essencialmente transgressora, a criação artística dá conta de interpretar o sexo ao com todo prazer possível, e vice-versa. No cinema, podemos citar obras como O Império dos Sentidos, filme franco-japonês de 1976, do diretor Nagisa Oshima, que explora os limites do amor obsessivo entre uma ex-prostituta e o chefe de uma propriedade onde ela é contratada como empregada; Saló ou os 120 dias de Sodoma (1975), de Pier Paolo Pasolini, trata da história de um grupo de jovens que sofre uma série de torturas por quatro fascistas durante o ano de 1944, inclusive sexuais com alto teor escatológico; O Último Tango em Paris (1972), do cineasta Bernardo Bertolucci, explora a violência sexual e o caos emocional entre um homem mais velho (Marlon Brando) e uma jovem parisiense (Maria Schneider), lembrado até hoje pela cena tensa e altamente erótica de sexo anal.

Hoje, o cinema e o audiovisual dão conta de falar sobre sexo das maneiras mais diversas. Filmes que deixam de lado a simulação representativa do sexo e gravam cenas reais não são difíceis de achar: 9 Canções (Michael Winterbottom / 2004); Ken Park (Larry Clark / 2002); Q (Laurent Bouhnik / 2011); Shortbus (John Cameron Mitchell / 2005) são apenas alguns de uma longa lista. Outras abordagens bem interessantes são os exemplos abaixo.

Beautiful Agony: exercício do "prazer solitário" em video
Beautiful Agony (facettes de la petite mort) é um site que grava e exibe vídeos de pessoas (mulheres e homens) tendo orgasmos. Enquadrada apenas em close (sem genitálias e outras opções do tipo), a proposta mostra a gradual e quase poética escalada para a “pequena morte”, como bem descreve o subtítulo do site.

Hysterical Literature é uma série de vídeos de mulheres lendo textos, com passagens eróticas ou não, ao mesmo tempo em que são estimuladas por um vibrador. Atingindo o clímax, elas mostram “o dualismo entre o corpo e a mente”. O fotógrafo Clayton Cubitt, responsável pela ideia, diz que a série também pretendeu mostrar o contraste entre cultura e sexualidade, já que o orgasmo feminino ainda é criminalizado em algumas sociedades e religiões.


Hysterical Literature: Session One: Stoya (Official) 


 


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