Por Marcelo Lopes
Uma vez perguntaram ao cineasta Woody Allen se ele
achava que sexo era sacanagem. “Só se for bem feito”, ele respondeu. Este texto
não é necessariamente sobre sacanagem, embora alguém possa discordar.
Mais do que apenas circunscrita nos termos da
biologia, o sexo é compartilhado socialmente pela mediação cultural que dita o
que deve ou não deve ser aceito, cria seus tabus e o transforma no termômetro
daquilo que chamamos de proibido. Pecar, por exemplo, em certo sentido – justamente por ser pecado -
é mais gostoso do que pesado na alma. Ao longo da história humana, o sexo
desfilou com maior ou menor naturalidade pela arte, pela ciência, pela vida a
dois, a três ou grupal. Na Grécia antiga, a homossexualidade era tratada como
algo comum, permitido e até institucionalizado. Na tradição de alguns povos
africanos a sensibilidade do corpo feminino é reconhecidamente um canal com os
deuses, o que fazia com que certos homens “mudassem de sexo”, tornando-se
virtual e conjugalmente mulheres e sacerdotizas. Até poucas décadas atrás, na
nossa terrinha brasilis, era comum as
famílias darem suas filhas ao casamento e quanto menos idade tivessem melhor para
que gerassem mais filhos ao longo da vida fértil. Isto significava dizer que
eram estimulados socialmente os casamentos entre homens adultos e meninas de
doze ou treze anos, até menos. Muitas histórias de avós e bizavós vêm à tona se
pararmos bem para pensar e olharmos nossos troncos familiares.
O Último Tango em Paris, de Bertolucci |
Se o sexo ainda é tabu, a forma como lidamos com ele
muda a todo o momento. Na arte principalmente. Por ser essencialmente
transgressora, a criação artística dá conta de interpretar o sexo ao com todo
prazer possível, e vice-versa. No cinema, podemos citar obras como O Império dos Sentidos,
filme franco-japonês de 1976, do diretor Nagisa
Oshima, que explora os limites do amor obsessivo entre uma ex-prostituta e
o chefe de uma propriedade onde ela é contratada como empregada; Saló ou os 120 dias
de Sodoma (1975), de Pier Paolo Pasolini, trata da história de um grupo de jovens
que sofre uma série de torturas por quatro fascistas durante o ano de 1944,
inclusive sexuais com alto teor escatológico; O Último Tango
em Paris (1972), do cineasta Bernardo Bertolucci, explora a violência sexual
e o caos emocional entre um homem mais velho (Marlon Brando) e uma jovem
parisiense (Maria Schneider), lembrado até hoje pela cena tensa
e altamente erótica de sexo anal.
Hoje, o cinema e o audiovisual dão conta de falar
sobre sexo das maneiras mais diversas. Filmes que deixam de lado a simulação
representativa do sexo e gravam cenas reais não são difíceis de achar: 9 Canções (Michael
Winterbottom / 2004); Ken
Park (Larry Clark / 2002); Q (Laurent
Bouhnik / 2011); Shortbus
(John Cameron Mitchell / 2005) são apenas alguns de uma longa lista. Outras
abordagens bem interessantes são os exemplos abaixo.
Beautiful Agony: exercício do "prazer solitário" em video |
Hysterical Literature é uma série de vídeos de mulheres lendo textos, com passagens eróticas
ou não, ao mesmo tempo em que são estimuladas por um vibrador. Atingindo o
clímax, elas mostram “o dualismo entre o corpo e a mente”. O fotógrafo Clayton Cubitt,
responsável pela ideia, diz que a série também pretendeu mostrar o contraste
entre cultura e sexualidade, já que o orgasmo feminino ainda é criminalizado em
algumas sociedades e religiões.
Hysterical Literature: Session One: Stoya (Official)
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