Olha,
Como que fazendo do olhar
Um pincel
De pelos finos e sensíveis,
Anatomia precisa,
Instrumento afinado,
Extensão dos teus próprios dedos,
Tensos ou libertos ao desejo de ver.
O exercício do olhar dá
Ao banal o valor do símbolo.
Transforma o mendigo em
Doce vagabundo.
Dá cartola ao vilão
Mais ordinário.
Vê sabedoria nos animais
E bichos decrépitos
Nos nossos belos intelectualóides.
Somos cúmplices, minha doce amiga,
Na forma que damos aos
Traços alfabéticos da nossa escrita.
Teus olhos tão cintilantes,
Imantados,
Põem a teus pés a admiração do mundo.
Use-os.
No nosso amor pelas letras
Meu texto flui solto,
Corre feito o potro em dia de sol,
Mas também se cansa e sabe quando
E como é hora de parar
Para que a energia volte.
O teu, agarrado aos impulsos
E sentimentos mais viscerais,
Todos moldados no teu sublime jeito,
Nascem dos pequenos gestos desejados
Que teu olhar busca ver
Nos que por ti passam
Nos que em ti ficam.
No tudo que te cerca.
Sobre o que escrevemos
Temos um mundo e alguns anexos
A dizer, a contar do que percebemos.
E se te deixo essas palavras,
Olhos cintilantes,
Não são por conselhos,
É minha forma de dizer
Do carinho gratuito por ti,
E de dizer-te que as palavras
Estão por aí, soltas
Correndo ao sol
Sem tempo
Só é preciso agarrá-las...
Estenda as mãos.
Veja onde elas estão.
Olhe.
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