sexta-feira, 7 de junho de 2013

Documentários Fake, mas nem tanto

Por Marcelo Lopes

Há uns três anos, fui surpreendido ao chegar à casa de uma amiga e encontrá-la, junto com outros conhecidos dela, todos de cabelo em pé. Eles acabavam de assistir a uma história pavorosa registrada por um casal em sua residência, um material “documental” que havia acabado de chegar às locadoras. Motivo do pavor: muitos deles realmente acreditaram que as assombrações contidas no filme “Atividade Paranormal” eram reais.

O fenômeno não é novo. Ainda no início de 1980, um dos exemplos mais conhecidos deste tipo de narrativa fake foi o filme “Canibal Holocausto”, do italiano Ruggero Deodato, com roteiro de Gianfranco Clerici . Filmado na Amazônia, narra a história de um grupo de pesquisadores que pretendiam fazer um documentário sobre tribos indígenas, mas que acabaram mortos, restando deles apenas as fitas do registro de viagem. O gênero, que ficou conhecido como Monkumentary  (mock: falso + documentary: documentário) também teve seus momentos de fenômeno na década de 1990 com “A Bruxa de Blair”, filmagem “verídica” de três estudantes que desapareceram em uma floresta enquanto investigavam a lenda urbana de uma bruxa; um dos filmes mais lucrativos da recente cinematografia mundial, com um investimento de 100 mil dólares e uma arrecadação de 250 milhões.

Mas nem tudo é terror. Uma das produções mais interessantes que descobri nos últimos tempos trata, de forma irônica e inteligente, da nossa querida realidade brasileira.  O documentário de curta-metragem "MPB: A história que o Brasil não conhece", que circula na internet desde abril, é baseado no livro "Firework Operation", de Neil Jackman, e revela um plano conspiratório do governo americano e totalmente desconhecido por boa parte dos brasileiros: a destruição da música brasileira. O curta conta como o compositor Michael Sullivan, ao lado de Paulo Massadas, autores de tantas versões americanas para trilhas de novelas e grupos musicais infantis, eram, na verdade, agentes infiltrados pelos Estados Unidos no país, com  o objetivo de subverter a música popular no Brasil.  Ao lado deles também estariam outros como Oswaldo Montenegro, em Brasília, Humberto Gessinger, no Rio Grande do Sul, e Compadre Washington, na Bahia. A história inventada – do filme e do livro – deu tão certo que artistas como Margareth Menezes pediram para dar depoimento sobre sua visão da conspiração após assistir ao curta, querendo inclusive ler o texto original de Neil Jackman. Resultado: a proposta começa a virar série, em canal próprio no Youtube, já com um segundo capítulo disponível.

O mais interessante - fora a óbvia anedota - é que a pauta sobre o emburrecimento da música brasileira é mais do que verídica. Se antes, temas da cultura popular voltadas para o desenvolvimento musical geravam uma diversidade artística que iam da Bossa Nova e o Samba até o Rock e um pop mais atento a letras e melodias, me parece que a única pauta possível hoje em dia é a festa: tudo o que der em festa dá música. E por isso, letra e melodia não importam muito. Do que chamam de Agromúsica ao estilos sacolejantes do funk e arrocha, aos subgêneros mais surreais como Melody Cyber Carimbó Universtário (existe mesmo, pode procurar), tudo é passível de ser pior. 

Como dinheiro é sim uma coisa que mexe com a cabeça das pessoas – juro – estou aqui pensando em montar um cursinho pré-vestibular para garantir a vaga de novos sertanejos, arrocheiros e demais pretendentes ao gênero universitário. Se não se pode vencê-los.... 

Ironias à parte, confiram mais este monkumentary. Vale o clique.





7 comentários:

  1. Marcelo, seus textos são sempre ótimos. Parabéns.

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    1. Obrigado, Alfeu!
      A experiência de ter sempre aberto esse espaço de reflexão é ótima principalmente por poder partilhar reflexões.

      Valeu... Um abraço!

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  2. O documentário é falso mas não é mentiroso porquê de um dia pro outro passamos de Elis Regina para Calypso!

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