Por
Marcelo Lopes
Há uns três anos, fui surpreendido ao
chegar à casa de uma amiga e encontrá-la, junto com outros conhecidos dela,
todos de cabelo em pé. Eles acabavam de assistir a uma história pavorosa registrada
por um casal em sua residência, um material “documental” que havia acabado de chegar
às locadoras. Motivo do pavor: muitos deles realmente acreditaram que as assombrações
contidas no filme “Atividade Paranormal” eram reais.
O fenômeno não é novo. Ainda no início
de 1980, um dos exemplos mais conhecidos deste tipo de narrativa fake foi o filme “Canibal Holocausto”,
do italiano Ruggero Deodato, com roteiro de Gianfranco Clerici .
Filmado na Amazônia, narra a história de um grupo de pesquisadores que
pretendiam fazer um documentário sobre tribos indígenas, mas que acabaram
mortos, restando deles apenas as fitas do registro de viagem. O gênero, que ficou
conhecido como Monkumentary (mock: falso
+ documentary: documentário) também teve seus momentos de fenômeno na década de
1990 com “A Bruxa de Blair”, filmagem “verídica” de três estudantes que
desapareceram em uma floresta enquanto investigavam a lenda urbana de uma bruxa;
um dos filmes mais lucrativos da recente cinematografia mundial, com um
investimento de 100 mil dólares e uma arrecadação de 250 milhões.
Mas nem tudo é
terror. Uma das produções mais interessantes que descobri nos últimos tempos
trata, de forma irônica e inteligente, da nossa querida realidade brasileira. O documentário de curta-metragem
"MPB: A história que o Brasil não conhece", que circula na internet
desde abril, é baseado no livro "Firework Operation", de Neil
Jackman, e revela um plano conspiratório do governo americano e totalmente
desconhecido por boa parte dos brasileiros: a destruição da música brasileira.
O curta conta como o compositor Michael Sullivan, ao lado de Paulo Massadas, autores
de tantas versões americanas para trilhas de novelas e grupos musicais
infantis, eram, na verdade, agentes infiltrados pelos Estados Unidos no país,
com o objetivo de subverter a música
popular no Brasil. Ao lado deles também
estariam outros como Oswaldo Montenegro, em Brasília, Humberto Gessinger, no
Rio Grande do Sul, e Compadre Washington, na Bahia. A história inventada – do filme e do
livro – deu tão certo que artistas como Margareth Menezes pediram para dar
depoimento sobre sua visão da conspiração após assistir ao curta, querendo
inclusive ler o texto original de Neil Jackman. Resultado: a proposta começa a
virar série, em canal próprio no Youtube, já com um segundo capítulo disponível.
O mais interessante - fora a óbvia
anedota - é que a pauta sobre o emburrecimento da música brasileira é mais do
que verídica. Se antes, temas da cultura popular voltadas para o
desenvolvimento musical geravam uma diversidade artística que iam da Bossa Nova
e o Samba até o Rock e um pop mais atento a letras e melodias, me parece que a
única pauta possível hoje em dia é a festa: tudo o que der em festa dá música.
E por isso, letra e melodia não importam muito. Do que chamam de Agromúsica ao
estilos sacolejantes do funk e arrocha, aos subgêneros mais surreais como Melody
Cyber Carimbó Universtário (existe mesmo, pode procurar), tudo é passível de
ser pior.
Como dinheiro é sim uma coisa que mexe
com a cabeça das pessoas – juro – estou aqui pensando em montar um cursinho pré-vestibular
para garantir a vaga de novos sertanejos, arrocheiros e demais pretendentes ao
gênero universitário. Se não se pode vencê-los....
Ironias à parte, confiram mais este monkumentary. Vale o clique.
Ironias à parte, confiram mais este monkumentary. Vale o clique.
Marcelo, seus textos são sempre ótimos. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Alfeu!
ExcluirA experiência de ter sempre aberto esse espaço de reflexão é ótima principalmente por poder partilhar reflexões.
Valeu... Um abraço!
Valeu, show de bola!
ResponderExcluirValeu!
ExcluirAmei o blog...Sucesso!
ResponderExcluirObrigado, Tânia! Bjo!
ResponderExcluirO documentário é falso mas não é mentiroso porquê de um dia pro outro passamos de Elis Regina para Calypso!
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